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“Lula já provou não ter um programa de desenvolvimento. E nunca terá”

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“Qualquer estudante sabe que Bush está à esquerda de Palocci”

 

 

DINHEIRO ? O sr. já disse que a cidade do Rio padecia de um superávit incontrolável. O que mudou de lá para cá?
CÉSAR MAIA ? A mesma tendência só fez se intensificar. Neste momento o Tesouro Municipal tem 1,5 bilhão em caixa e nosso Fundo de Pensão tem R$ 1,8 bilhão. No Brasil quem governa da mão para a boca, governa mal ou quebra no meio do caminho. Meu estilo é produzir uma poupança fiscal no inicio do governo, para poder realizar com certeza todo o planejamento feito.

DINHEIRO ? Se há tanto dinheiro em caixa, por que os hospitais do Rio entraram em caos?
MAIA ? Não entraram em caos. Aliás o próprio ministro diz isso quando me acusa de não ter assinado o acordo por intransigência. O Ministério da Saúde é que vinha descumprindo desde 1999 o contrato de gestão com a Prefeitura. O governo anterior nos repassou nove hospitais federais para administramos num contrato leonino. E nem esse contrato ele respeita e cumpre. O problema da saúde do Rio é um só: o Ministério da Saúde reassumir os seus hospitais e desonerar a prefeitura. Mas o governo preferiu ser arbitrário e fazer uma intervenção política. Repito: a intervenção foi um ato político. Só me recuso a acreditar que Lula tenha feito isso por causa do meu crescimento no Ibope.

DINHEIRO ? A intervenção federal tem sido positiva para a população?
MAIA ? Espero que o Ministério da Saúde agora assuma os hospitais federais. Já levaram quatro neste pacote. Se fizerem isso, certamente vai melhorar para a população, pois deixa a Prefeitura mais livre para cuidar de suas próprias unidades. Quero deixar claro que a Prefeitura do Rio é a que mais aplica em saúde pública no País. Investimos em saneamento e levamos medicamento em casa para 290 mil idosos com diabetes e hipertensão, além de atendimento a 85 mil crianças na escola.

DINHEIRO ? Muitas empresas estão trocando a cidade do Rio por outras capitais. Afinal, a cidade que o sr. administra entrou em agonia econômica?
MAIA ? Ao contrário. A troca de sede de empresas é um processo natural de reconversão que, a exemplo de outras grandes cidades, como São Paulo, ocorre há mais de dez anos. Nosso município, segundo o IBGE, representa 7,8% do PIB nacional, só abaixo de Minas Gerais, com 9,4%, e de São Paulo, com 34%. Só a cidade do Rio tem um PIB maior do que o Rio Grande do Sul, que vem em seguida com 7,6% do PIB nacional. O turismo é um dos segmentos que mais cresce, como nunca cresceu antes, com uma substituição de turistas de menor renda por europeus e norte-americanos, conforme estudo da FGV. Enfim, estamos sim com problemas, mas não entramos em agonia, pois há sinais fortes de recuperação em vários segmentos. A construção naval é um deles.

DINHEIRO ? O sr. é candidato à Presidência da República?
MAIA ? Não uso a prefeitura como trampolim, nem vou abandonar meu eleitor, mas acho que o Rio deve ter alguém conduzindo o Brasil. O ano de 2005 será de estudos e propostas que vão começar a amadurecer no Congresso Nacional. Só daqui a um ano o PFL avaliará se tem competitividade e então decidirá. Nosso partido está buscando novas teses econômicas, um novo programa de governo, que inclui alternativas à Presidência da República. O PFL é um partido orgânico, que discute e decide coletivamente. Portanto, não sou candidato de mim mesmo. Já me perguntaram que eu aceitaria concorrer ao governo do Estado em vez da Presidência. Por que não? Acho que devemos fazer a oferta ao eleitor e ver o que ele realmente quer.

DINHEIRO ?   Que ponto essencial precisa mudar na política econômica de Lula?
MAIA ? De uma forma geral, diria que o Brasil aprendeu a crescer sem democracia. Depois aprendeu a ficar parado com democracia. Agora, o Brasil precisa aprender a crescer com democracia. A estabilidade da moeda é uma preliminar. No padrão internacional de avaliação, a política econômica exaltada por este governo não passa de uma irrelevância política. Isto é, a estabilidade da moeda é tão importante para a o progresso social que os países mais desenvolvidos tiraram ela do âmbito político e a entregaram a um banco central independente. Ela é fundamental socialmente, mas ao mesmo tempo é irrelevante politicamente. O que é relevante é o governo induzir o desenvolvimento econômico e a criação de empregos. Relevante é a inserção internacional ativa, são as macropolíticas sociais, combinadas com as ações sociais dirigidas. Enfim, um crescimento sustentado da produtividade, para que o País possa ser competitivo. Em nosso caso, o governo Lula já deu provas mais do que suficientes de que não tem projeto de desenvolvimento. E tudo indica que não terá.

DINHEIRO ? Foi bom não renovar o acordo com o FMI?
MAIA ? Depende da taxa de risco incorporada ao governo. Com uma taxa próxima a zero, nenhum risco. Com uma taxa de risco alta, vai voar sem seguro. É o caso do governo Lula. O risco PT não permite esta extravagância, pois qualquer brisa internacional poderá desestabilizar a economia. Não considero uma decisão acertada, só vai aumentar o risco Brasil. Teria sido mais prudente renovar.

DINHEIRO ? O superávit primário pode ser reduzido sem levar a uma explosão do risco Brasil?
MAIA ? Depende do risco governo. Afinal, pagar menos juros é um bom negócio e termina por permitir reduzir o déficit nominal, que é o critério de análise no exterior. A ascensão do Lula trouxe um problema adicional para a economia. Só o ?risco Lula? é avaliado pelo mercado em cinco a seis pontos percentuais. Sem este risco, a taxa de juros estaria entre 12% e 13%.

DINHEIRO ? A meta de inflação estabelecida pelo CMN está do tamanho certo ou está alta demais?
MAIA ? O governo errou ao querer derrubar muito rapidamente a inflação em 2003. Agora está numa cama-de-gato e tem que trabalhar com taxas menores de inflação para não sinalizar incerteza. Se corrigir a meta, perde a credibilidade dos mercados. Se não corrigir, compromete o crescimento econômico por conta dos juros.

DINHEIRO ? Que sugestões o sr. tem para o governo federal aumentar os investimentos públicos em infra-estrutura?
MAIA ? Reduzir os juros. Mas isto depende do risco político incorporado no governo. É uma decisão que requer muita coragem do presidente da República.

DINHEIRO ? Como o sr. avalia a expansão dos gastos públicos federais?
MAIA ? Quando se aumenta os gastos do gabinete do presidente em 300%, quando se gasta em viagens mais de R$ 1 bilhão, quando se cria 45 mil novos cargos, é porque há muita gordura para cortar. Evidentemente, é por aí que o governo precisa começar a agir. Mais uma vez, cortar o supérfluo é uma decisão que requer coragem.

DINHEIRO ? Antônio Palocci é um bom ministro da Fazenda?
MAIA ? O ministro Palocci é um bom vocalizador de medidas que não entende muito. Até surpreende por esta capacidade de explicar coisas em público que lhe explicaram em particular. A política macroeconômica do País está nas mãos de gestores radicalmente liberais. Por falta de lastro teórico e projeto próprio, o ministro acabou aceitando tudo de bom grado. Acho que sequer sabe que a política que ele autoriza é a mesma que os seus chefes maiores condenavam anos atrás, quando as esquerdas pregavam que a revolução do proletariado só seria completada com a tomada da Escola de Economia de Chicago pelas massas. Qualquer estudante de economia hoje percebe que a equipe econômica de George W. Bush está muito à esquerda da equipe econômica de Palocci.

DINHEIRO ? E Henrique Meirelles no Banco Central?
MAIA ? Como o Palocci no caso da política macro, não sei se o Meirelles é a cabeça da política monetária. Parece-me que é um vocalizador dela, assim como o Palocci na Fazenda. O problema é que não se identifica direito a origem das medidas adotadas pelo banco. Com Armínio Fraga era diferente, o mercado tinha muito mais segurança sobre os rumos do Banco Central. Quando aparecem aqueles números de crescimento da economia brasileira, que são cíclicos, como os atuais, os gestores econômicos orgulhosamente os mostram ao presidente, afirmando que ele pode ficar tranqüilo que isso será por muito tempo. O presidente não tem como não acreditar, e os repete em seus comícios e em todos os atos em que participa. Como os 5% de crescimento em 2004 foram sendo atingidos numa curva ascendente, se a partir daqui o crescimento for zero, teremos em 2005 um crescimento médio um pouco maior do que 3% por razões numéricas. E eles vão continuar dizendo ao presidente que está indo tudo muito bem.

DINHEIRO ? E José Dirceu, está gerenciando de forma adequada o governo?
MAIA ? Gerenciando? Este governo não tem gerência! O presidente Lula, por sua vez, todos os dias inventa um ato para fazer um discurso e dar a impressão que o governo está funcionando. Mas ele não despacha, não dirige, não coordena. E em sua equipe próxima, não tem um só quadro com esta formação. Nem o José Dirceu. A confusão está tão grande que recentemente o ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, fez sérias críticas à política econômica do governo durante uma entrevista à imprensa. Apontou que a política cambial vai quebrar os exportadores, que a política de comércio exterior fica se preocupando com mercadinhos menores, e que o aumento de juros é inócuo uma vez que são os preços administrados que puxam a inflação. O governo é tão ineficiente que leva um ano para fazer uma licitação.

DINHEIRO ? Depois das derrotas na Câmara, quais as chances do governo Lula de aprofundar as reformas estruturais?
MAIA ? Insisto: hoje não há gestão política. O governo não tem agenda: perdeu-se na reforma ministerial que não fez e dá sinais de debilidade junto ao Congresso. Ou seja: fracassou politicamente. E não está dando mostras de que vá fazer a coisa certa para se recuperar. Esse governo perdeu o sentido de estar aí. Se o Brasil ainda está andando, é graças aos estados, aos municípios e principalmente por iniciativa dos empresários.

DINHEIRO ? Quais as principais qualidades que o credencial a pleitear a Presidência da República?
MAIA ? A questão não é um currículo de qualidades. Nem me cabe avaliar-me. Mas posso avaliar outros candidatos à presidência. Do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por exemplo, eu posso falar. Ele tem todas as qualidades para ocupar qualquer função no país. Sobre o presidente Lula, já fiz minhas críticas.