31/08/2005 - 7:00
A predileção do empresário Laércio Cosentino é pela culinária francesa. Chef nas horas vagas, ele transformou sua paixão numa sociedade com o chef Erick Jacquin, um dos mais conhecidos do País, e comanda um restaurante em São Paulo. No mundo gastronômico de Cosentino, o sabor francês é marcante, mas será necessário deixá-lo de lado nos próximos meses. Ele terá que se concentrar em temperos típicos da América Latina, dos tacos mexicanos à parillada argentina. Presidente da maior companhia brasileira de softwares de gestão para pequenas e médias empresas, a Totvs, Cosentino se prepara para uma briga com as gigantes SAP e Oracle na disputa pelos clientes de outros países da região. Hoje a Totvs, que trabalha com as marcas Microsiga e Logocenter, tem 7% desse mercado no continente contra 16% da Oracle e 38% da SAP. Quando dessa conta são excluídos os grandes contratos e sobram as compras das pequenas e médias companhias, a Totvs assume a dianteira. É pouco para Cosentino. ?Temos chances reais de enfrentá-los em todo o setor?, diz o executivo. Nas estimativas da Totvs, há na região cerca de 500 mil empresas que são potenciais compradores de softwares de gestão, utilizados na administração do dia a dia das empresas.
Cosentino tem a seu favor um profundo conhecimento do mercado de pequenas e médias empresas e as lições aprendidas na disputa pela liderança no Brasil com a Datasul. A Totvs conquistou a liderança em janeiro deste ano após a fusão da Microsiga, que já pertencia a Cosentino, com a paranaense Logocenter.
Juntas as duas companhias fecharão o ano com um faturamento de R$ 380 milhões no mercado brasileiro, hoje estimado em R$ 804 milhões. Com a Datasul para trás, as duas empresas resolveram investir contra os gigantes dos softwares de gestão mundial. O embate seria inevitável porque tanto a SAP quanto a Oracle estão em movimento descendente na América Latina, em busca de clientes menores. As duas empresas já identificaram uma saturação nos grandes consumidores dos seus softwares. ?Essa cenário não compromete o nosso sono. Pelo contrário. Ficamos mais estimulados?, afirma José Rogério Luiz, vice-presidente da Totvs.
Cosentino e sua equipe esperam alcançar o objetivo com uma certa ajuda do crescimento das exportações brasileiras de software, já que o governo federal pretende sair dos atuais US$ 200 milhões por ano para US$ 2 bilhões em 2007. Nesse novo cenário, no qual o software nacional ganhará escala global, a Totvs acha que suas chances aumentam de maneira significativa na disputa com os concorrentes internacionais. “Uma empresa começa a ser competitiva no mercado externo quando fatura cerca de R$ 500 milhões”, diz Antônio Carlos Rego Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação, a Brascom. A Totvs está apenas R$ 120 milhões atrás dessa cifra e pretende chegar lá o mais rápido possível.