O empresário Marc Nacamuli mal pode esperar o início de dezembro. O dono da Dyna, maior fabricante brasileira (quinta do mundo) de limpadores de pára-brisa, prepara uma carreata que vai engarrafar São Paulo. De sua fábrica, em Guarulhos, o executivo vislumbra a saída de 35 a 40 carretas abarrotadas com 1,35 milhão de palhetas em direção ao porto de Santos. Vai decorar os caminhões com logotipos da marca e alugar helicóptero para fazer fotos aéreas. E não que seja seu primeiro contrato de exportação, já que a Dyna rateia sua produção de 25 milhões de unidades em três partes iguais: montadoras, reposição e vendas externas. O que define essa carga como acontecimento é que as palhetas serão destinadas a um único comprador. ?Vai tudo isso para o Aldi, um atacadista alemão?, conta. Herdeiro da empresa fundada por seu pai Joseph, em 1955, o executivo comemora cada pedido como se fosse o primeiro. Tanto que a Dyna não pára de crescer: o faturamento de 2004 será de R$ 100 milhões (R$ 60 milhões em 2003). Expectativa para o ano que vem? R$ 150 milhões. O segredo? ?A Dyna só faz limpadores. Nunca alterou o foco e jamais irá alterá-lo?, diz.

Trabalhando desde os 18 anos, quando estreou como operário ?sem que ninguém soubesse que era filho do seu Joseph?, Marc fala da companhia com orgulho indisfarçável, embora mencione que sua ?maior paixão? é a coleção de cartões de embarque de companhias aéreas. ?Conheço 125 países e tenho 780 cartões! Entrarei no Guinness?, exclama. A invejável milhagem não é à toa: as palhetas da Dyna são exportadas para 63 países desde 1982.

Mais do que a exposição internacional, em que as concorrentes são gigantes como Bosch e Valeo, a pergunta é imediata: como obter êxito em uma empresa familiar e verticalizada? Nacamuli atribui à decisão que tomou em 1979, quando abdicou do licenciamento de uma empresa estrangeira e partiu para carreira-solo, pavimentando a possibilidade de exportar, algo que a parceira não lhe permitia. A primeira prova de fogo aconteceu no governo Collor, início dos anos 90. A política econômica escancarou a alfândega às autopeças estrangeiras (a alíquota de importação era de 3%), que enfrentaram as nacionais sucateadas e descapitalizadas. A conseqüência foi a internacionalização, caso de Metal Leve, Cofap e Varga. A Dyna sobreviveu por ter padrão de qualidade internacional devido à exportação. ?Os concorrentes não puderam me comprar?, relembra. É fato. Ainda hoje, a Dyna possui 85% do mercado junto às montadoras e 90% na reposição. Mesmo as exportações permanecem efusivas. Só nos EUA, ela é dona de 4% do mercado, isto é, cerca de 3 milhões de palhetas. Quer chegar a 5 milhões em 2006. ?Há outro produto brasileiro manufaturado que detenha participação tão grande naquele país??, desafia.

A verticalização é outra marca registrada. Possui uma única fábrica e realiza todas as etapas da produção: desde a pintura do braço do limpador até a embalagem. Construir outras fábricas, aproveitando benefícios fiscais? ?Pra quê? Eu perderia em escala. Melhor continuar só em Guarulhos?, sintetiza Marc. Em seu portfólio, a Dyna atende 95% de todos os carros fabricados no mundo ? mais de 5 mil modelos de veículos. ?Acho que ainda dá para crescer muito?, calcula.

A empresa responde por 5% do mercado mundial de palhetas