16/04/2008 - 7:00
A FAMÍLIA CONSTANTINO TORNOU-SE UM fenômeno empresarial da história recente do capitalismo nacional. Numa velocidade impressionante, saiu do quase anonimato da década de 90, quando (sem fazer alarde) construiu um pequeno império no mercado de transportes rodoviários no País, para se transformar num conglomerado de negócios colossais, que somaram R$ 8,6 bilhões de receita bruta em 2007. Os Constantino foram parar no ranking dos bilionários da revista Forbes. Os quatro filhos do patriarca, o ?seu? Nenê Constantino, tinham em seu caixa particular (cada um, é claro) US$ 1,1 bilhão em em 2006. As mais de 30 empresas de ônibus, a compra da Companhia Providência, a participação na BR Vias e, principalmente, o controle da Gol Linhas Aéreas catapultaram a família para a esfera dos muito ricos e muito poderosos. Bem, quem foi rei raramente perde a majestade e o prestígio. Mas pode ficar menos rico. É exatamente o caso dos Constantino. O ano de 2007 foi um dos piores para as empresas da família e 2008 começa sem sinais de que as coisas possam mudar significativamente. O valor de mercado das empresas Gol e Providência diminuiu 36,7% em apenas quatro meses, caindo de R$ 9,8 bilhões para R$ 6,2 bilhões desde dezembro. Somados, os lucros das duas despencaram 65% no ano passado. No segmento de transportes, os projetos também não caminham da forma planejada. Criada em 2006, com 34% do capital nas mãos dos Constantino, a empresa BR Vias ainda patina. Sua meta era ser ?uma das líderes do setor de concessões rodoviárias?, como afirmava Antonio Beldi, do grupo Splice, dono de 50% de seu capital. Até hoje, ela não conseguiu encostar no grupo CCR e na espanhola OHL, atuais líder e vicelíder do mercado. No aguardado leilão para administrar o trecho oeste do Rodoanel, no mês passado, a BR Vias perdeu a disputa para a CCR. Mas o primeiro tropeço veio cinco meses antes, em outro leilão para explorar trechos de rodovias federais. Foi a vez de a OHL sair vitoriosa. A BR Vias, que tem no comando Henrique Constantino, ficou com apenas um dos lotes, o da BR-153. A meta da família nunca foi expandir a BR Vias na mesma velocidade da Gol. Mas a conturbada fase é comum às duas companhias.
VALOR DE MERCADO DA GOL JÁ É MENOR QUE O DA TAM E ANALISTAS MANTÊM CAUTELA
A Gol não consegue voltar a crescer com lucratividade desde o início da crise aérea, no final de 2006. O lucro caiu 60% em 2007, as despesas operacionais subiram 58% e a margem operacional estava negativa em dezembro (-5,9%). Pior: no final de março a empresa fez um comunicado ao mercado. Ela acredita que essa margem ficará entre 2% negativos e 0% no primeiro trimestre. E a ocupação média de suas aeronaves deve chegar a 63% de janeiro a março. Detalhe: ela esperava uma taxa de até 69%. A compra da Varig teve impacto enorme nesses números. Constantino Júnior, presidente da Gol, afirmou há um ano que esperava uma virada nos resultados da Varig até o final de 2007. Nada aconteceu. Na semana passada, a Varig anunciou que vai parar de voar para o México, Paris e Madri a partir de maio. A manutenção não justificaria os custos altos dessas rotas. ?A empresa registrou prejuízo operacional no último trimestre de 2007 e assim deve continar nos primeiros meses de 2008?, diz Caio Dias, analista do Santander. A Varig é só um pedaço do problema. A Gol, assim como a TAM, foi obrigada a reduzir o número de decolagens em Congonhas desde setembro. ?As restrições de vôo atingiram mais a Gol porque ela depende mais de Congonhas?, afirma Dias. Esse não é o exemplo único que coloca as duas em posições diferentes. Em ambas, há receita em alta, mas lucro e taxa de ocupação encolheram e o preço das ações só cai. Na TAM, porém, o tombo é menos feio, pois o mercado espera uma melhora a curto prazo. Neste ano, até 4 de abril, as ações PN da TAM caíram 13,5%. Na Gol, desabaram 38%. Hoje, a Gol já tem valor de mercado menor do que o da rival (R$ 5,6 bilhões contra R$ 6,9 bilhões). ?Sabemos da complexidade do nosso negócio, do perfil cíclico que caracteriza nossas operações e dos desvios de rota muitas vezes impostos por fatores externos que fogem ao nosso controle?, informou Constantino em nota, em fevereiro. Procurada, a companhia não se manifestou.