Se, ainda traumatizado com o susto do apagão de 2001, você imagina possuir a sua própria usina hidrelétrica, saiba que a idéia não é assim tão absurda. Uma recém-lançada modalidade de investimento, disponível apenas para aqueles com cacife para fazer aplicações superiores a R$ 2 milhões, está abrindo as portas do mercado de energia para pessoas físicas sem nenhuma ligação com empresas do setor. O negócio tem o timbre oficial do Centro Nacional de Desenvolvimento de Pequenas Centrais Hidrelétricas (CndPCH), que promove a captação de recursos para os projetos de construção das usinas. ?O investimento é seguro e o retorno é garantido por 15 anos seguidos?, diz o diretor de negócios do CndPCH, Jorge Sampaio. A estimativa é de que o negócio movimente R$ 800 milhões e gere lucro em torno de 15%.

As pequenas hidrelétricas, chamadas de PCHs, têm
capacidade de gerar entre 1 e 30 megawatts (MW). Para
cada um desses MW calcula-se que o custo médio seja de R$ 2 milhões, valor da aplicação. A estratégia de investimento funciona da seguinte forma: o investidor pode optar por bancar a conta sozinho ou agrupar-se com outras pessoas, criando uma espécie de fundo. O próximo passo é escolher um projeto para destinar seus recursos. Os que estão em fase mais adiantada de instalação, com aprovações legais de funcionamento, por exemplo, custam bem mais caro. Têm, no entanto, a vantagem de começar a operar num curto espaço de tempo, e como conseqüência o retorno financeiro é mais rápido. Isso porque, em alguns casos, os órgãos ambientais levam até dois anos para liberar uma licença de funcionamento. Os contratos, entre os investidores e os empresários, em geral são fechados pelo prazo de 15 anos.

Pelos cálculos do CndPCH, o investidor recupera o valor aplicado em seis ou sete anos. ?Depois disso, praticamente só tem lucro?, afirma Sampaio. Desde que começou a atender interessados em investir no setor, o centro já recebeu 48 solicitações de investidores. Destes, 31 não têm experiência alguma no setor elétrico. ?Esses investidores não querem se preocupar com a construção da usina, apenas com a finalidade e o lucro que ela pode trazer?, acrescenta Sampaio. Alguns desses empreendedores, especialmente as pessoas físicas, investem para comercializar a energia gerada com as distribuidoras locais. Outros, principalmente as empresas, buscam atender suas próprias necessidades de consumo. Assim, conseguem o ganho adicional de se proteger das altas nas tarifas de energia.

Há ainda quem procure as duas coisas, como é o caso do empresário Fernando Doria de Bellis. Sócio de uma empresa que atua na área de construção civil, ele se interessou pela segurança desse tipo de operação financeira. ?O fato de o governo se comprometer em comprar sua participação na usina no fim do contrato é uma garantia muito importante?, destaca. A posição do governo se deve ao fato de a geração de energia ter grande importância social. E para incentivar ainda mais o desenvolvimento dessas usinas deve ser aprovado em breve o Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa), que prevê a compra de 1,1 mil MW pela Eletrobrás nos próximos dois anos, com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Dados da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústria de Base (Abdib) apontam que as 109 usinas com previsão de entrar em operação nos próximos dois anos poderão gerar 1.086 MW e criar 354 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o País tem 895 MW instalados em 209 pequenas hidrelétricas em operação. Há outras 38 usinas em construção e mais 103 empreendimentos outorgados cujas obras ainda não tiveram início. Minas Gerais, por causa da topografia, é a região que concentra a maior parte dos projetos ? o fato de a área ser montanhosa reduz o custo da construção. Depois de Minas, o interior paulista e o Estado do Paraná também disputam espaço como alvo predileto dos potenciais investidores no ramo.