02/08/2020 - 7:18
Em cada lado da fronteira entre Israel e Líbano, as declarações são marciais: o Hezbollah afirma que a ação contra Israel é “irremediável” e Israel adverte o movimento xiita sobre “brincar com fogo”,mas para analistas nenhum dos dois pretende entrar em conflito.
Na última segunda-feira, após meses de relativa calma, Israel informou que impediu um ataque “terrorista” e abriu fogo contra homens armados que cruzaram a Linha Azul entre o Líbano e Israel, mas retornaram ao lado libanês.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu atribuiu a invasão ao Hezbollah, movimento armado xiita pró-iraniano de alta influência no sul do Líbano, que Israel considera seu inimigo.
O Hezbollah negou qualquer envolvimento.
O episódio ocorreu após novos ataques na Síria atribuídos a Israel, que deixaram cinco combatentes pró-iranianos mortos, incluindo um membro do Hezbollah.
O primeiro-ministro libanês Hassan Diab,condenou o que chamou de “escalada perigosa”.
Diante dessa possibilidade, o exército israelense elevou seu status de alerta na fronteira, explica Orna Mizrahi, ex-executiva de segurança do gabinete do premier israelense e analista do Instituto Nacional de Estudos de Segurança.
– Falsa calma –
O último grande confronto entre o Hezbollah e Israel foi em 2006. Em um mês, mais de 1.200 pessoas morreram do lado libanês, principalmente civis, e 160 entre os israelenses, em sua maioria militares.
Dias antes do último incidente na fronteira, durante uma visita da AFP às bases militares israelenses na Linha Azul, o capitão Jonathan Goshen disse: Nossas tropas veem o Hezbollah “se preparando para a próxima guerra”.
Jornalistas que costumam ir ao sul do Líbano afirmam que a presença militar do Hezbollah é invisível.
Segundo um relatório feito pela ONU em março, o movimento mantém combatentes e armas no local.
“A fronteira parece calma, mas não é”, disse Jonathan Goshen, perto de Metula, a cidade mais ao norte de Israel.
“Quando nos aproximamos, basta esperar dez minutos e é possível vê-los [membros do Hezbollah] chegarem em busca de informações para testar nossa reação”, acrescentou.
– “Incomum” –
Para os observadores, os dois lados estão cientes de que um conflito não seria interessante no momento.
No lado libanês, o descontentamento popular e os protestos contra o governo, incluindo nos redutos do Hezbollah,”não podem ser ignorados”, segundo Didier Leroy, especialista no grupo armado.
Com uma grave crise econômica, política e de saúde, “o ambiente no Líbano não é favorável a uma agenda marcial contra Israel”, acrescenta.
Leroy afirma que o Hezbollah está sob pressão financeira, como seu aliado iraniano, o que influencia na estratégia “militar”.
Israel tem melhor situação econômica, mas enfrenta outros problemas, como a pandemia de COVID-19, o desemprego em ascensão e os protestos contra o governo, disse Orna Mizrahi.
O comportamento do exército israelense indica uma intenção de evitar qualquer conflito, disse Nahum Barnea ao jornal Yediot Aharonot.
“A lógica é clara: matar membros da célula levaria a um dia de luta no norte (…) Mas os responsáveis não desejam entrar em uma terceira guerra no Líbano”, explica ele.