O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki,  criticou nesta terça-feira, 4, a atuação dos procuradores da Operação  Lava Jato durante a apresentação da denúncia contra o ex-presidente Luiz  Inácio Lula da Silva, em setembro. Para Teori, houve um “espetáculo  midiático muito forte de divulgação” em Curitiba.

Na  época, Lula foi apontado pelos procuradores como o chefe de uma  organização criminosa. “Essa espetacularização do episódio não é  compatível nem com o que consta nos autos, nem com a seriedade que se  exige na apuração desses fatos”, disse o ministro.

A fala  do ministro foi feita durante a sessão da Segunda Turma que negou pedido  apresentado pela defesa de Lula para retirar do juiz federal Sérgio  Moro três inquéritos que apuram possíveis irregularidades cometidas pelo  ex-presidente.

Para Teori, os procuradores da Lava Jato  ”deram a entender” que estariam investigando a organização criminosa por  trás do esquema de corrupção da Petrobras, o que não consta na denúncia  apresentada pelo Ministério Público.

“Nós todos tivemos a  oportunidade de verificar há poucos dias um espetáculo midiático muito  forte de divulgação, se fez lá em Curitiba, não com a participação do  juiz, mas do Ministério Público, da Polícia Federal, se deu notícia  sobre organização criminosa, colocando o presidente Lula como líder  dessa organização criminosa, dando a impressão, sim, de que se estaria  investigando essa organização criminosa (em Curitiba)”, comentou o  ministro.

Teori destacou que o fato já é alvo de  investigação no STF – há um inquérito em tramitação no Supremo que  investiga a formação de quadrilha no esquema de corrupção da Petrobras.  ”Aquilo que foi objeto de oferecimento da denúncia efetivamente não foi  nada disso. Então realmente houve esse descompasso. Na verdade, se  houvesse reclamação (por parte da defesa de Lula), deveria ser contra  esse episódio (da apresentação da denúncia pelos procuradores), não  contra aquilo que conta nos autos”, disse Teori.

Nesta  terça-feira, a Segunda Turma do STF rejeitou um recurso apresentado pela  defesa de Lula e manteve as investigações de três inquéritos contra o  ex-presidente com o juiz federal Sérgio Moro. A defesa do ex-presidente  alegava que Moro “usurpa” a competência do STF pois estaria apurando  fatos envolvendo um esquema de corrupção na Petrobras que já são alvos  de investigação pela Corte.

O ministro ressaltou que, caso a  reclamação de Lula fosse acolhida pelo STF, seria preciso concentrar na  Corte todos os inquéritos e ações penais em curso que envolvem fatos  relacionados ao recebimento de propina no esquema de corrupção instalado  na Petrobras, o que prolongaria o andamento da análise dos processos.

“Nós  teríamos aqui provavelmente uma ação penal envolvendo não só pessoas  com foro por prerrogativa de função, mas provavelmente várias centenas  de réus. Se nós demoramos aqui seis meses para julgar uma ação penal  envolvendo 30 e poucos acusados, imagina o que se ocorreria com uma ação  penal envolvendo 500 ou 600 ou acolá. Isso é absolutamente inviável”,  afirmou Teori.