08/12/2000 - 8:00
Não é todo dia que uma ilha é leiloada no Brasil. Ainda mais se esse pedaço de terra já foi refúgio de verão do lendário milionário americano Nelson Rockefeller. A área fica a 13 minutos de barco da Praia da Baleia, no litoral norte de São Paulo. Era lá que o neto do magnata John Rockefeller, dono de uma das maiores fortunas dos EUA, aproveitava os dias de sol no Brasil. Isso na década de 50, época em que o então presidente, Getúlio Vargas, presenteava os seus amigos com nacos de terras da União. Isso mesmo. A Ilha dos Gatos foi presente de Vargas a Rockefeller. Agora, ela pode ser de quem quiser. Ou melhor, de quem puder pagar no mínimo R$ 6 milhões ? lance inicial do leilão da próxima terça-feira. O preço é uma pechincha. O metro quadrado foi fixado em R$ 72, quando em outras praias da região pode chegar a R$ 1.000. Há outro detalhe: nem todos os 83 mil m2 da ilha podem ser usados para construir, já que boa parte da área é de reserva ambiental. Considerando apenas os 37 mil m2 que podem ser construídos, o valor sobe para R$ 162. ?Mesmo assim é muito abaixo da média?, avalia Luiz Antônio Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio, Embraesp.
O preço baixo tem uma explicação. O atual dono é a Sociedade Ecológica Brasileira, entidade de proteção ambiental sem fins lucrativos. A ilha foi comprada em abril do ano passado. Na verdade, trocada por um terreno em Ilhabela. ?Pagamos bem menos do que realmente valia?, diz Eduardo Lustoza, coordenador da entidade. A idéia era fazer da Ilha dos Gatos um laboratório natural. O projeto não deu certo porque o apoio financeiro de uma ONG nunca chegou.
Do glamour que um dia a Ilha dos Gatos teve, resta pouco. Hoje é uma enorme praia deserta, com ruínas de uma mansão, com água potável, mas sem energia. Quando morreu, Nelson Rockefeller deixou a propriedade para o caseiro, que a vendeu alguns anos depois. O lugar teve vários donos, até que em 1995 foi comprado pelo empresário Otávio Lopes de Oliveira, mediante permuta com a entidade ecológica no início do ano.
Na avaliação do leiloeiro oficial, as empresas do setor hoteleiro deverão ser as mais interessadas no leilão. Qualquer pessoa, entretanto, pode concorrer. As propostas por escrito têm de ser encaminhadas até 24 horas antes ao endereço da empresa de leilão (Rodovia Presidente Dutra, km 224, CEP 07034-909 ? São Paulo), mas qualquer um poderá participar na hora da martelada. E o vencedor nem vai precisar desembolsar tudo no mesmo dia. Existe a opção de pagamento à vista com 10% de desconto ou parcelado em até 12 vezes, com 30% de sinal. Além disso, paga-se 5% do valor da proposta como comissão do leiloeiro e outros 5% pelo laudêmio ? taxa paga pela concessão de posse. Trata-se de um detalhe importante. É sempre bom lembrar que a ilha não deixa de ser propriedade da Marinha. O que o comprador tem é uma permissão de uso por 99 anos, podendo ser renovado por outros 99 anos. Até lá, dá para aproveitar muitos verões.