Nada mais comum na rotina do economista Edemir Pinto, 57 anos, do que andar pelo centro de São Paulo. Nem a garoa, típica da cidade, pode atrapalhar esse prazer. Afinal, há 25 anos ele trabalha nessa região, sendo que nos últimos três anos, desde a fusão da BM&F com a Bovespa, em 2008, como presidente da BM&FBovespa, a terceira maior bolsa de valores do mundo em valor de mercado. “Houve melhorias no centro da cidade que atraíram faculdades, empresas de telemarketing e outros negócios”, diz Pinto. Em 2012, quando completa 458 anos, a cidade reforça sua vocação como centro financeiro regional. 

 

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Edemir Pinto: Presidente da BM&FBovespa

 

“São Paulo é hoje um centro com grandes profissionais do mercado financeiro e de capitais, além de contar com investidores institucionais, excelentes advogados e tudo o que é necessário para fechar negócios na área de intermediação financeira.” Com tudo isso, em sua visão, não há melhor lugar para fechar negócios na América Latina do que São Paulo. O desempenho da bolsa nos últimos anos evidencia isso muito bem, de acordo com Pinto. Em 2011, a BM&FBovespa teve o melhor resultado de sua história, chegando a 141,2 milhões de transações, um crescimento de mais de 30% em relação ao ano anterior, que tinha ultrapassado, pela primeira vez, o patamar de 100 milhões de transações. 

 

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Sede da Bovespa: A bolsa de São Paulo é a maior da América do Sul e uma das maiores do mundo.

 

O valor médio diário dos negócios atingiu R$ 6,4 bilhões, outro recorde. Mesmo com as dificuldades da economia global, a BM&FBovespa espera a retomada dos processos de abertura de capital a partir deste ano. “O potencial é muito grande”, diz Pinto. “Existem entre 40 e 45 empresas represadas com seus planos de oferta pública inicial de ações.” Contam muito para isso as injeções de otimismo que a cidade recebeu nos últimos anos com as melhorias introduzidas no centro urbano da cidade para atrair novos investidores. A Lei da Cidade Limpa, que retirou outdoors e disciplinou o uso de placas nas fachadas de edifícios e prédios comerciais, segundo Pinto, teve o grande mérito de reduzir abusos na propaganda ao ar livre. 

 

“Sem dúvida, foi um grande avanço”, diz o executivo. Com isso ele, que é um contumaz frequentador do centro, afirma que ficou melhor andar pela cidade. Seus lugares preferidos da região central? Há vários. Um deles é a própria BM&FBovespa, que se tornou uma atração e recebe cerca de 500 visitantes por dia. “Recomendo também o Centro Cultural Banco do Brasil, o Mosteiro de São Bento e o Pateo do Collegio, onde a cidade começou.” Bom gourmet, como uma boa parcela da população de São Paulo, ele indica os restaurantes próximos ao local onde trabalha no centro da cidade. 

 

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Café Girondino: no largo São Bento, em frente ao Mosteiro de São Bento, uma das atrações

turísticas da cidade de São Paulo em razão de suas missas com canto gregoriano.

 

Em sua lista de preferidos estão a Cervejaria São Jorge, na praça Antônio Prado, o Café Girondino, no largo São Bento, e o Restaurante Lia Jockey, na rua Boa Vista. Mas não é apenas na venda e compra de ações que São Paulo se destaca como um grande centro financeiro, comparável a Londres, Nova York ou Hong Kong pelo seu dinamismo e efervescência. Há muito dinheiro também nos fundos de privaty equity. Em 2011, esses fundos captaram US$ 12 bilhões. Neste ano, a previsão é de US$ 20 bilhões. Essa tendência criou uma nova avenida para o dinheiro de São Paulo: a região da Faria Lima. 

 

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Pateo do Collegio: local onde foi construída por jesuítas a primeira capela que deu origem

à cidade de São Paulo.

 

É lá que se instalaram as principais instituições financeiras dessa área, como o BTG Pactual e o Carlyle, entre tantos outros. “Temos uma regulação no setor financeiro que é exemplo para o mundo”, afirma Pinto. “Isso tem atraído cada vez mais investimentos para o País.” Apesar do muito que já foi feito para chamar a atenção dos investidores, São Paulo deve incorporar outros atrativos para empresários nacionais e internacionais, de acordo com Pinto. Afinal, a cidade tem um grande mercado consumidor, um dos maiores do mundo. “Apenas a classe média de São Paulo, por exemplo, é maior do que muitos países da Europa”, diz. 

 

Para o presidente da BM&FBovespa, essa característica assinala duas vocações da cidade de São Paulo: para a área de serviços e para a intermediação financeira. Por esse motivo, há ainda muito a ser feito para melhorar, principalmente no centro de São Paulo, em sua visão. Sobre o aspecto urbanístico, por exemplo, alguns especialistas defendem maior liberdade na legislação de obras, para permitir reformas nos prédios mais antigos e trazer não só empresas, mas também mais moradores. “É necessário criar um ambiente regulatório capaz de atrair as grandes incorporadoras”, afirma o executivo. “Todo centro revitalizado deve ter suas torres ou complexos comerciais para ter vida dia e noite. Isso daria mais vitalidade, a exemplo do que ocorreu nas regiões centrais de outras cidades do mundo.” 

 

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Centro Cultural Banco do Brasil: um dos principais espaços da região

central da cidade de São Paulo para exposições de arte.

 

A melhora do ambiente de negócios exige também maiores investimentos em infraestrututra, transporte público e aeroportos. Do lado privado, acredita Pinto, o Brasil precisa com urgência – “e São Paulo não é diferente” – de maior infraestrutura hoteleira para a realização de eventos de grande porte. Mas as perspectivas são altamente positivas, segundo o presidente da BM&FBovespa. “São Paulo tem um povo trabalhador, que sempre acolheu bem os imigrantes. É uma cidade formada por vários povos”, diz o executivo. “Temos vocação para crescer e continuar sendo um polo de atração de investimentos.”

 

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A cidade do capital: Alguns números que mostram a força de São Paulo.

 

 

 

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O luxo do mercado imobiliário

 

Zeco Auriemo, presidente do JHSF, mostra como São Paulo ajudou o Brasil a desbancar a China na preferência dos investidores em imóveis

 

Da janela de seu escritório, na Marginal Pinheiros, em São Paulo, o empresário paulista José Auriemo Neto, presidente do grupo JHSF, observa a intensa movimentação de carros em uma das vias mais agitadas da capital paulista. É nesse local improvável que Auriemo construiu um audacioso empreendimento que engloba nove torres residenciais, três prédios comerciais e um shopping center repleto de grifes internacionais de luxo. Zeco, como ele é mais conhecido, pode ser considerado o símbolo do multibilionário mercado de luxo e imobiliário que se desenvolve em São Paulo. 

 

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José Auriemo Neto: presidente do grupo JHSF, em foto no Complexo Cidade Jardim,

na Marginal Pinheiros.

 

Aos 458 anos, completados no próximo dia 25, a metrópole continua em transformação permanente. “A cidade se desenvolveu e seu eixo se deslocou do centro antigo para a avenida Paulista e depois para a avenida Faria Lima e Marginal Pinheiros”, afirma Auriemo, que atua no ramo de incorporação, shopping centers, prédios residenciais e comerciais e hotéis com a marca Fasano. Com isso, a cidade atraiu diversos investimentos e assumiu, na visão do empresário, o papel de maior polo de negócios da América Latina. “São Paulo concentra a sede de grandes empresas e bancos operando no País”, diz Auriemo. 

 

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Avenida Faria Lima: região da cidade de São Paulo conhecida por abrigar grande quantidade

de instituições financeiras.

 

“Temos edifícios comerciais modernos capacitados para atender às empresas, hotéis de nível internacional, espaços expositivos, restaurantes importantes e uma rede de serviços de apoio de grande qualidade.” Mas é preciso não perder de vista que as demais cidades brasileiras também têm investido muito e mostram tendências de elevado crescimento. “Isso traz para São Paulo um novo desafio para o futuro”, afirma o presidente da JHSF. Essa expansão do setor imobiliário tem sido impulsionada pela valorização dos ativos. 

 

Um levantamento da Associação dos Investidores Estrangeiros no Mercado Imobiliário (Afire, na sigla em inglês) indica que o Brasil se tornou, em 2011, o segundo melhor lugar do mundo para investimentos na área – perdendo para os Estados Unidos, mas desbancando a China da vice-liderança. Com a alta procura e a facilidade de financiamento, investidores de todo o mundo preparam para tornar 2012 o ano em que o País mais receberá aporte estrangeiro na área. Segundo esse estudo, São Paulo chegou à quarta posição entre as “cidades mais propícias” para investimento, ante o 26º lugar em 2010. 

 

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Rua Oscar Freire: região que reúne uma das maiores concentrações por metro

quadrado de lojas de luxo de São Paulo.

 

“São Paulo hoje tem, na América Latina, papel similar ao que Cingapura e Hong Kong representam na Ásia, Nova York, na América do Norte, e Londres, na Europa”, diz Auriemo. Para o empresário, as mudanças no plano urbanístico que aconteceram em São Paulo, nos últimos anos, favoreceram esse bom desempenho. “A capacitação de bairros para serem mais independentes parece uma tendência importante”, afirma Auriemo. “Os projetos de uso misto, como o Cidade Jardim, da JHSF, também seguem uma vocação moderna e colaboram para um menor deslocamento, o que é relevante em uma cidade como a nossa.” 

 

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Ponte Estaiada: um dos novos cartões-postais da cidade de São Paulo, na Marginal Pinheiros.

 

Auriemo segue à risca o que fala. Tanto que gosta de frequentar os restaurantes do Shopping Cidade Jardim, que é de sua própria empresa, e do bairro dos Jardins. “Eles ficam próximos ao escritório e de minha casa”, afirma ele. “O restaurante Parigi, que fica na rua Amauri, também é um ótimo lugar para almoços de negócios.” Na visão do empresário, não obstante o expressivo destaque alcançado por São Paulo no mercado imobiliário brasileiro, algumas mudanças precisam acontecer para estimular ainda mais novos empreendimentos na cidade. 

 

“O mercado imobiliário tem grande dinamismo e é decorrência do fluxo de investimento de importantes empresas nos mais variados segmentos de negócio estabelecidos na cidade”, diz Auriemo. “O desafio é também encontrar maneiras de aumentar a qualidade de vida da população da cidade.” Outra tendência no Brasil, em geral, e na cidade de São Paulo, em particular, é o crescimento do consumo de luxo. Pesquisa das consultorias MCF e GfK indica que o consumo de artigos de luxo no Brasil vai chegar a R$ 20,9 bilhões em 2012, um crescimento de 38% em comparação ao ano passado. 

 

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Fachada do Parigi: restaurante, na rua Amauri, é um dos preferidos dos principais empresários que

comandam o PIB paulistano.

 

Mais: o número de brasileiros que têm mais de US$ 1 milhão para investir chegou a 155 mil em 2010, segundo estudo da Merrill Lynch e Capgemini. Em 2005, havia 109 mil milionários no País. Vários empreendimentos estão sendo construídos em São Paulo para atender à demanda crescente por esses produtos. O empresário, por exemplo, vai erguer um mini-shopping na região da Oscar Freire, rua que reúne uma das maiores concentrações de lojas de luxo de São Paulo por metro quadrado. Ele terá ligação com o vizinho Hotel Fasano, rede do qual Auriemo é acionista majoritário. “São Paulo concentra um número crescente de operações de marcas nacionais e estrangeiras de prestígio. É uma realidade pela capacidade de consumo de seus habitantes, visitantes e investidores”, diz Auriemo.

 

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A cidade do turismo: Alguns números que mostram a força de São Paulo.