O escritor Ernest Hemingway descreveu as agruras e a relação do homem com o mar com uma riqueza de detalhes ímpar. No livro O velho e o mar, publicado em 1952 e vencedor do Prêmio Nobel de literatura de 1954, ele mostra a vida de Santiago, um velho pescador em uma luta inglória para fisgar o maior peixe de sua vida. Se Hemingway escreveu os detalhes desta relação de amor e ódio do homem com o mar, o brasileiro Roberto Linsker, geólogo por formação e fotógrafo por opção, registrou a essência dos pescadores em 92 fotografias em preto-e-branco. Elas formam o recém-lançado livro Mar de homens, da editora Terra Virgem. Para criar a obra, Linsker, vencedor do Picture of the Year 2002, da revista National Geographic, realizou mais de dez mil fotografias em oito anos de trabalho. Percorreu os oito mil quilômetros de litoral brasileiro e conviveu com mais de 70 comunidades de pescadores. ?É impressionante o modo como os homens ainda pescam em pleno século 21?, diz Linsker. ?Usam ferramentas arcaicas, jangadas, canoas e são integrados ao meio ambiente.?

 

Apesar do modo rústico de fisgar os peixes, os pescadores artesanais são responsáveis por 60% das 750 mil toneladas pescadas no País. É uma gigantesca indústria informal que emprega cerca de 800 mil pessoas. O curioso é que todas elas, mesmo distantes por quilômetros de distância umas das outras, mantêm uma identidade homogênea com o mar. ?A filosofia de vida é a mesma?, diz Linsker. Como visitou as comunidades espalhadas em todos os Estados litorâneos, ele conseguiu, de certa forma, mapear o DNA dos pescadores. Descobre-se que no Sul do Brasil os homens do mar são os caiçaras, descendentes de índios, e no Norte e Nordeste predomina a descendência dos negros com o uso de jangadas. Como tinha muita informação e não poderia apresentá-la no livro Mar de homens, exclusivamente fotográfico, Linsker chamou a documentarista Helena Tassara para escrever um outro livro: O mar é uma outra terra. São obras imperdíveis para quem pretende conhecer, a fundo, as raízes do povo brasileiro.