17/02/2023 - 11:39
Após o terremoto que arrasou o sul da Turquia em 6 de fevereiro, deixando mais de 38.000 mortos no país, além de destruir milhares de edifícios, especialistas alertam para os danos que um choque semelhante pode causar em Istambul.
Com 16 milhões de habitantes segundo dados oficiais, a maior cidade da Turquia está localizada perto da Falha Oriental da Anatólia, que provocou um terremoto em agosto de 1999. O balanço foi de mais de 17.000 mortos.
Os sismólogos temem que a metrópole seja abalada por um violento terremoto.
Murat Güney, um pesquisador independente especializado em transformação urbana , observa, no entanto, que Istambul conta com um número suficiente de prédios vazios, recém-construídos, para abrigar com segurança os moradores que vivem em edifícios mais expostos.
PERGUNTA: Quantos edifícios correm risco em caso de um terremoto de grande magnitude em Istambul?
RESPOSTA: Acredita-se que um terremoto de magnitude de até 7,5 abalará Istambul. Um terremoto desse tipo poderia matar milhares de moradores, e entre 50.000 e 200.000 prédios poderiam desabar, ou ficar seriamente danificados. A estimativa mais elevada — 200 mil imóveis — corresponde a 17% do parque imobiliário da metrópole.
Esses edifícios de alto risco precisariam de uma transformação imediata, já que até mesmo um pequeno tremor poderia derrubá-los.
No total, há em torno de 1.166.000 de edifícios residenciais em Istambul. Entre eles, 817.000 (70%) foram construídos antes do terremoto de 1999, quando não havia inspeção de resistência aos abalos sísmicos.
P: É possível realocar todos os seus habitantes para moradias seguras?
R: Em Istambul, existem mais de 150.000 prédios novos resistentes a terremotos, construídos depois de 2008. Atualmente estão vazios, seja porque os apartamentos aguardam compradores, seja porque são residências secundárias de pessoas com boas condições e que não os alugam.
Não precisa construir mais. O número de acomodações vagas é suficiente para realocar quem mora em prédios de alto risco. Mas é uma decisão política, que o governo não toma.
P: Um “imposto de terremoto” foi criado após o terremoto de 1999 para tornar as cidades turcas mais resistentes, e um programa de transformação urbana foi implementado em Istambul. Essas medidas deram resultado?
R: Desde o terremoto de Mármara, em 1999, cerca de US$ 38 bilhões (em torno de R$ 197 bilhões) foram arrecadados dos contribuintes por meio desse imposto especial para tornar as cidades turcas mais resistentes a terremotos. Este dinheiro público não foi usado corretamente, mas para cobrir outras despesas do governo.
Além disso, a “lei da catástrofes” concedeu ao governo o direito de expropriação em nome da proteção dos moradores contra terremotos e outros desastres naturais. Mas essa lei foi usada para confiscar terrenos de valor em Istambul.
Até agora, a maioria dos edifícios de alto risco não foi incluída em projetos de transformação urbana. Em vez disso, terrenos localizadas no norte de Istambul, longe da linha da falha geológica, mas perto do Bósforo, ou voltados para o Bósforo (…), foram confiscados pelo governo por meio dessa lei de catástrofes.