16/07/2020 - 16:10
Ele nasceu às margens do Rio São Francisco. Descende de uma família italiana e por isso foi batizado com o nome Testardi. Em bom português, teimoso. Foi concebido para provar que o Nordeste brasileiro pode ser o berço de um grande vinho tinto. E se tornou lendário. Um dos Sete Lendários da Miolo, a coleção de ícones da vinícola escolhidos a dedo para representar o melhor da safra 2018, a mais perfeita dos 30 anos de história da empresa.
As condições climatológicas daquele ano, favorecidas pelo fenômeno conhecido como La Niña, permitiu a plena maturação das uvas em todas as regiões produtoras do País. Não foi diferente no Vale do São Francisco. Lá, onde a agricultura só é possível devido à irrigação, as videiras produzem duas vindimas por ano: uma de maior volume, no verão; e outra de maior qualidade, no inverno. Foi da segunda colheita que saíram as uvas da variedade syrah utilizadas para a vinificação do Testardi. Antes de ser engarrafado, ele passou por 12 meses em barricas novas de carvalho francês, o que ajudou a arredondar os taninos e aportou aromas bem interessantes. Além de um pouco de pimenta negra, o que é típico da casta, ele traz notas de noz moscada, que combinam perfeitamente com as frutas vermelhas que se destacam no olfato. Em especial o morango maduro. Assim como o mandacaru, cacto típico do semiárido, que apesar da aparência rústica tem um perfume elegante em seu interior, esse vinho sertanejo é bem mais sofisticado do que pode parecer.
Por conter 15% de álcool – o que o qualifica como vinho nobre pela legislação brasileira –, é recomendável refrescar a garrafa e abri-la ao menos meia hora antes do serviço. Essa oxigenação ajudará a volatizar o álcool e permitir que os aromas se evidenciem. Bem estruturado de boa persistência em boca, o Testardi é um vinho gastronômico, que vai muito bem com carne de porco e de cordeiro. A enóloga Eloisa Teixeira, que trabalhou nas últimas safras do rótulo, afirma que ele expressa melhor sua personalidade quando harmonizado com pratos típicos do sertão. Ela cita como exemplo a carne de bode. Seja qual for a escolha, vale provar esse grande vinho, que merece não apenas um lugar entre os Lendários da Miolo como tem tudo para fazer história entre os melhores do Brasil elaborados com a variedade syrah.