O coronel do Exército e membro do Clube Militar Waldo Manuel de Oliveira Aires disse, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira, 23, que ele e o general Walter Braga Netto ficaram sabendo do ataques golpistas do 8 de Janeiro depois de uma partida de vôlei na praia de Copacabana, no Rio, e ficaram “surpresos” com os acontecimentos.

“Pelo histórico das manifestações de conservadores, são manifestações pacíficas. Causou estranheza. A reação do general Braga Netto foi de surpresa”, afirmou Aires. Ele foi uma das testemunhas de defesa ouvidas na manhã desta sexta no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado.

Também prestou depoimento na audiência pela manhã Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, que trabalhou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e é testemunha do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). À tarde, participarão o ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, e o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo.

Aires, testemunha de Braga Netto e amigo da família, relatou que foi o filho do general que o informou sobre a depredação nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. “Pelo que eu conversei com a esposa dele, dona Kathya, eles ficaram sabendo através do telefonema do filho, que pediu para que os pais ligassem a televisão para verem o que estava acontecendo em Brasília”, disse.

A testemunha disse que evitava conversar sobre política com Braga Netto durante esse período.

Braga Netto é acusado de ter participado diretamente da trama golpista. Segundo relatório da PF, o general organizou em sua casa uma reunião para discutir planos do golpe, pressionou militares de alta patente a aderir a empreitada e apoiou financeiramente uma tentativa de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Braga Netto foi preso preventivamente em dezembro de 2024 e permanece detido.

O primeiro a depor nesta sexta-feira, Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, foi alvo de uma questão de ordem inicial do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O procurador-geral alegou que Coelho não poderia ser ouvido como testemunha porque ele é investigado no caso da Abin paralela e o uso indevido do sistema de espionagem FirstMile quando Ramagem era diretor da agência e pode virar réu.

“A acusação entende que essa testemunha não pode ser ouvida nessa qualidade, até porque não tem o dever de falar a verdade, não pode ser compromissada, não pode violar o direito de autoincriminação”, afirmou Gonet.

O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes acatou parcialmente o pedido. “Ele não está obrigado a dizer a verdade sobre fatos que podem o incriminar, mas advirto que em relação aos fatos que não possa se autoincriminar, em relação aos fatos que ele não está investigado, ele não pode mentir. O direito ao silêncio não é um direito amplo à mentira”, disse.

O uso do FirstMile foi o principal o ponto questionado pela defesa de Ramagem. Coelho disse que Ramagem teve “conduta proativa para investigar não só a irregularidade formal da ferramenta e a utilização” do dispositivo de espionagem.

A Polícia Federal afirma que Ramagem se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente e articulou ataques ao STF. Trocas de mensagens apontaram, segundo as investigações, que Ramagem incentivava Bolsonaro a confrontar os ministros. A defesa do deputado classificou os indícios como “tímidos” e negou envolvimento dele em atos golpistas.