Nos últimos 18 meses, a palavra crise se incorporou de modo cada vez mais acelerado ao vocabulário de empresários, de donas de casa e de trabalhadores em geral. Também, não é para menos. Desde meados de 2014 que os indicadores econômicos já mostravam um perfil de deterioração nas contas públicas e o esgotamento do modelo baseado na exportação de commodities. Beleza. Mas por mais que os brasileiros tenham apertado seus cintos e as empresas reduzido seus estoques, demitido funcionários e cortado à metade as compras, os negócios continuaram sendo feitos. Em todos os segmentos. É a partir desta premissa que o empreendedor Claudio Rocha, sócio diretor da EcoSimple, traça seus planos para o desafiante ano de 2016.

Sem se divorciar da árdua realidade, ele deixa claro que está otimista com a evolução da empresa. “Vamos quase dobrar nossas vendas neste ano, em relação a 2015, saindo de R$ 6 milhões para R$ 11 milhões”, disse ele, durante bate papo no recém-inaugurado show-room da grife, na prestigiosa rua Gabriel Monteiro da Silva. Situada na Zona Sudoeste de São Paulo, a rua é considerada pelo empresário como a Beverly Hills do segmento de design brasileiro em matéria de mobiliário.

É claro que os negócios da grife, cuja sede está situada no município de Americana (SP), não começaram a decolar apenas com a abertura do show-room. Aliás, a EcoSimple começou fazendo sucesso na Europa e nos Estados Unidos, antes mesmo de se firmar no mercado local. “Na época vislumbramos a possibilidade de produzir tecidos diferenciados para o segmento decorativo de luxo, a partir da reutilização de sobras de confecções (retalhos), mescladas com resina PET de garrafas pós-consumo”, lembra.

No início, em 2004, ele uniu a vontade de empreender com o desejo de incluir o Comércio Justo na cadeia de valor da empresa. Por conta disso, toda a matéria prima era comprada de cooperativas de catadoras de resíduos, da região. Desde então, os valores da marca permaneceram intactos, mas as compras foram deslocadas para fornecedores com estruturas mais parrudas, capazes de atender a aceleração do ritmo de trabalho dos teares e o crescimento rápido das vendas da EcoSimple. É que num mercado competitivo como o da moda quem não consegue lançar novidades de forma contínua fica para trás. E isso vale também para o nicho de tecidos sustentáveis.

É neste ponto que o show-room assume uma posição estratégica. “Ficou mais fácil e mais prático receber os clientes e o formadores de opinião”, explica. Até então, as feiras têxteis representavam a única vitrine da EcoSimple. Ao fincar sua bandeira em um ponto cobiçado, Rocha também se sentiu mais encorajado a arriscar e a investir em novos materiais. A partir deste ano, o mostruário passou a contar com tecidos de fibra de acrílico e PET reciclados. 

Desenvolvidos para o mercado de mobiliário ao ar livre, eles são impermeáveis e resistentes à ação do tempo. Outro foi o linho (cuja composição inclui ainda algodão e PET reaproveitados), a juta (50% juta, 40% algodão e 10% PET reciclados) e as lonas listradas (algodão e PET). “Nosso foco sempre foi atender às necessidades dos clientes. Agora, estamos intensificando esta vertente, sem abrir mão de nosso DNA”, explica Tatiana Soares, mulher de Rocha e responsável pela área comercial da EcoSimple.

Isso ajuda a explicar a crescente aceitação do portfólio da grife paulista. Isso vale tanto para ícones do mundo fashion como para as grandes corporações. A lista de clientes inclui a Vert (baseada no Brasil e comandada pelos empreendededores franceses François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp), a americana Oakley (preferida dos esportistas), a americana Coca-Cola Shoes e a carioca Mr.Cat (adorada pela moçadinha descolada). Uma das mais recentes parcerias assinadas pelo sócio-diretor da EcoSimple foi com a gaúcha Beira Rio, para a qual fornece os tecidos para a linha Molekinha de calçados. “Esse contrato marca nossa entrada no fast fashion infantil”, explica.

Além de fortalecer os laços com os fabricantes, Rocha não se descuida do chamado segmento profissional, formado por arquitetos e designers. Figurinhas carimbadas deste metiê fazem parte da lista de melhores amigos da EcoSimple. Vai desde o designer de móveis Fernando Jaeger, ao arquiteto João Mansur, passando pela estilista Cris Barros. Aliás, foi graças à ligação com o mundo da moda que a EcoSimple deu seu primeiro salto. Em 2010, Rocha chamou o estilista Alexandre Herchcovitch para um conversa e o convenceu a desenvolver roupas com seus tecidos. O resultado foi mostrado na passarela do São Paulo Fashion Week naquele ano. “Esta parceria rende frutos até hoje”, conta o fundador da EcoSimple.