A rede brasileira de cafeterias The Coffee prevê faturar até R$ 115 milhões em 2024, o que representaria um crescimento de 25% sobre as receitas obtidas em 2023. Inspirada em modelos japoneses de negócios, costumeiramente pequenos e baseados em consumos em trânsito, a primeira ‘portinha’ da marca foi aberta em 2018, em Curitiba, com um investimento de R$ 60 mil. Com 225 lojas em operação, a rede planeja acelerar a expansão internacional, enquanto no Brasil ela adapta seu modelo de negócios ao gosto do consumidor tupiniquim.

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Carlos Fertonani, um dos sócios-fundadores da The Coffee, conta à Istoé Dinheiro que a ideia da cafeteria surgiu após uma viagem ao Japão. Por lá, é comum ver comércios do modelo “to go”, quando o consumidor adquire um produto e o consome em outro local, sem a necessidade de criação de espaços para os clientes. Com isso, há ganhos de eficiência e diminuição de custos, já que o estabelecimento pode ser pequeno e rentável.

“Fizemos uma viagem ao Japão em 2017 e achamos muito interessante o modelo de negócio ‘to go’. Por lá, não há só cafeterias como diversos tipos de comércios com o mesmo modelo. Resolvemos trazer essa experiência ao Brasil criando uma cafeteria com esse estilo, onde o consumidor compra seu café por meio de totens, retira o produto e vai consumir no trabalho ou em outro local. Ainda assim, nosso diferencial não é essencialmente esse, mas sim a qualidade do café que vendemos”, comenta Fertonani.

Unir a tecnologia a um atendimento rápido e um produto de qualidade era o objetivo dos sócios no lançamento da The Coffee. O modelo deu tão certo que mesmo aos cinco anos de idade a marca já possui 32 lojas abertas espalhadas por países Colômbia, Porto Rico, Peru, México, Chile, Emirados Árabes Unidos, Portugal, Espanha e França.

Em pouco tempo, a The Coffee também atraiu investidores interessados em apostar no negócio. No ano passado, por exemplo, a The Coffee captou de US$ 10 milhões com a gestora CapSur. A gestora de fundos, com uma tese de growth para América Latina, já tinha investido US$ 7,5 milhões na marca em 2022 e dobrou a aposta em 2023.

Plano de expansão no exterior

Os aportes, que também vieram de investidores como a Monashees, a Shift Capital, a Order, a CapSur, a Norte e a TeleMadrid, levou a rede além das fronteiras paranaenses e brasileiras. Estão previstas, por exemplo, as inaugurações de duas lojas em Dubai, uma na Arábia Saudita e outra no Egito ainda este ano. No longo prazo, a marca prevê faturar US$ 350 milhões em 2028, com 1.500 unidades no exterior e 350 no Brasil.

Atualmente, só em solo brasileiro, são vendidos cerca de 30 mil cafézinhos por dia. Não há números provenientes das vendas no exterior, que ocorrem por meio de unidades franqueadas.

“A busca por investidores foi uma consequência do crescimento da marca. Sempre estivemos abertos a propostas e fomos procurados espontaneamente. Com isso, conquistamos grandes parceiros”, afirma Fertonani sobre as empresas que já investiram na The Coffee.

Modelo e lojas compactas passa por redefinições

Das 225 lojas em funcionamento no Brasil, quatro são do modelo premium e 116 do modelo ‘hybrids’ (ambas tem área interna para sentar).

“Mas ainda temos alguns outros modelos com área de seating como: mall store, kiosk, e até algumas streets com adaptações para seating”, explica Fertonani.

Ou seja, a rede avança para deixar o modelo “portinha” e investir em lojas mais espaçosas no País.

Trazida ao Brasil como um modelo de negócio compacto, com lojas podem chegar a ter até 3 metros quadrados, a The Coffee percebeu nos últimos anos que o brasileiro possui um estilo de consumo um pouco diferente dos japoneses. Fertonani conta que os clientes locais gostam de se encontrar para tomar um café, mesmo que rápido, o que exige um espaço para que ele possa consumir o produto. Na avaliação dele, o café se tornou também um lifestyle para o público doméstico.

“Hoje a possui alguns modelos de lojas que são até grandes, acima de 100 metros quadrados, que chamamos de lojas premium. Percebemos que o brasileiro gosta de tomar um café para conversar, sentar um pouco à mesa para se distrair, e não apenas pegar o café e correr para o trabalho”, conta.

Segundo Fertonani, o modelo “to go” não será abandonado, mas as lojas com tamanhos maiores devem ganhar mais espaço na expansão da marca. No médio a longo prazo, a previsão do sócio-fundador da The Coffee é que de maioria das unidades tenham espaços e mesas para o consumo dos produtos.

Além disso, o cardápio é algo que tem sido estudado de forma mais aprofundada pela rede curitibana.

“É complicado e mais complexo lidar com alimentos. Hoje eles representam cerca de 15% do nosso faturamento, mas queremos ampliar para um índice entre 30% a 40%”, conclui.

Qualidade do café é o ponto chave

Além do atendimento personalizado e com uso de tecnologia, a qualidade do café é apontada por Fertonani como o principal diferencial da marca. A The Coffee adquire grãos de cafés especiais diretamente de fazendas especializadas, a maioria localizada em Minas Gerais.

“Temos um profissional que trabalha exclusivamente para encontrar os melhores cafés. A denominação correta é ‘coffee hunter’. Ele é o responsável por pesquisar onde estão os cafés de maior qualidade para adquirirmos. Apesar de termos parcerias com determinadas fazendas, estamos sempre nesse processo de busca por melhores cafés, ou seja, nossos fornecedores podem mudar de acordo com a qualidade do produto”, afirma Fertonani.

Além de alguns alimentos, as lojas da The Coffee comercializam três tipos de café: White, Kraft e Black, que variam de acordo com a pontuação segundo a Specialty Coffee Association (SCA), entidade norte-americana que pontua o café de acordo com a qualidade. Para ser um “café especial”, o produto deve completar mais de 80 pontos.

“Nosso café White tem qualidade acima dos 80 pontos, algo em torno de 82, enquanto o Kraft tem 85, e o Black, 88. Cafés comuns, como os torrados e moídos vendidos em supermercados, costumam ter uma pontuação que varia entre 40 e 50 pontos. É uma distância grande que faz a diferença no paladar dos clientes”, diz.

A seleção e a torrefação dos grãos adquiridos em Minas acontecem na cidade de Curitiba, por meio de um criterioso trabalho realizado pelo “Mestre de Torras”. Esse profissional, conta Fertonani, faz diversas pesquisas e testes, encontra o perfil (ou curva) de torra ideal e também é o responsável por definir o tempo e a temperatura as quais ficarão expostas os grãos na Torrefadora.

“Com ela, conseguimos valorizar o café e ressaltar as suas características da melhor maneira. E, assim, nossos clientes podem desfrutar o melhor que podemos oferecer”, acrescenta.

Quanto custa uma franquia?

A rápida expansão da The Coffee também é explicada pela aposta no franchising. Com lojas padronizadas, inclusive nos maquinários, foi possível acelerar o crescimento e a abertura de novas unidades por meio de franqueados e máster franqueados.

Para abrir uma unidade da marca, o investimento gira em torno de R$ 235 mil, com um faturamento estimado em R$ 1 milhão ao ano. Neste caso, o espaço indicado é de 20 metros quadrados de construção. Mas há também modelos maiores, com áreas que ultrapassam os 70 metros quadrados, e pode ser aberta por um investimento de R$ 560 mil.