Uma cena do filme 007 – Operação Skyfall (dirigido por Sam Mendes e lançado em 2012), mostra o vilão Silva, interpretado por Javier Barden, atirando na cabeça de uma espiã sobre a qual ele havia colocado um copo com uma dose de uísque Macallan envelhecido por 50 anos. Ao ver o disparo, a queda da vítima e o copo se espatifando com o precioso líquido, James Bond (vivido por Daniel Craig) faz um único comentário: “Que desperdício de um excelente single malt”. A peça de merchandising inserida na trama mostra como a tradicional destilaria, criada em 1824 à beira do rio Spey, na Escócia, enxerga seu próprio futuro. Quem conhece o agente 007 sabe que sua bebida predileta é dry martini (levemente mexido, não chacoalhado). Entrar em uma cena da franquia (e roubá-la) foi uma prova de ousadia do uísque Macallan.

E essa tem sido a tônica da marca: ir além do convencional para mudar a percepção que o mercado tem do scotch, por algum tempo considerado uma “bebida de velho”.

Antes de dar início à comemoração de seus 200 anos, com uma série de eventos que incluem a criação de um logo alusivo ao aniversário, o lançamento de um livro com a história da empresa em tiragem limitada e de algumas garrafas de uísque exclusivas para colecionadores, The Macallan havia buscado formas de se conectar com novos públicos.

Em 2021, sua whisky maker, Polly Logan, foi até Girona, na Espanha, para uma temporada com o chef pâtissier Jordi Roca, o caçula dos irmãos que comandam o cultuado restaurante El Celler de Can Roca, além da Casa Cacao. Depois, ela passou um tempo com o mestre chocolatier Damian Allsop.

A partir dessas experiências, foi pesquisar nos barris de carvalho previamente envelhecidos em Jerez que amadurecem na destilaria para criar o primeiro single malt voltado à harmonização com chocolate: The Macallan Harmony Collection Rich Cacao.

Em novembro do ano passado, mais uma colaboração da marca com os irmãos Roca resultou no projeto Distil Your World Mexico, que reuniu um single malt, um documentário (disponível no YouTube) e um menu que explora a gastronomia mexicana a partir de referências do Dia dos Mortos no país.

PREÇO RECORDE

Ações assim fazem com que a jornada de dois séculos da marca criada pelo fazendeiro Alexander Reid amplie sua reputação junto aos apreciadores da bebida. Embora não lidere o mercado de single malt, é dela o recorde de preço já pago por um uísque: em novembro passado, uma garrafa de The Macallan 1926 foi leiloada por 2,1 milhões de libras, ou R$ 13.134.030,00 pelo câmbio oficial da quarta-feira (21).

O valor é mais de 4,5 vezes o recorde registrado no Guinness Book pela garrafa de Macallan 64 anos em decanter de cristal Lalique leiloada em 2010 pela Sotheby’s de Nova York, que alcançou 460 mil libras.

Os preços exorbitantes de edições limitadas de rótulos The Macallan são a face mais visível do quanto a marca mexe com o imaginário de colecionadores e afluentes. Parte desse status se deve às peculiaridades da bebida, que por muito tempo era envelhecida em barricas de Jerez espanhol.

Em 2004, com a criação da série Fine Oak (mais tarde rebatizada Triple Cask Matured), a destilaria introduziu o carvalho americano previamente usado para o amadurecimento de Bourbon nos Estados Unidos.

Porém, uma parte significativa da reputação e do prestígio desse uísque se deve ao marketing bem feito. Um exemplo foi a indicação, em 2001, do Macallan 10 anos como o uísque oficial do presidente da Câmara dos Comuns, no Parlamento britânico. A indicação ocorreu apesar de o então presidente, Michael Martin, ser abstêmio. Assim, The Macallan se tornou o uísque oficial até de quem não bebe.

Abaixo, a moderna construção que abriga a destilaria, o prédio original, o kit que celebra o bicentenário e uma seleção de rótulos. Marca detém o recorde de uísque mais caro já leiloado: 2,1 milhões de libras

(Mark Power)
(Divulgação)
(Divulgação)

Um hotel para quem ama single malt. Mas não só isso

Considerado o melhor hotel da Escócia pela crítica especializada e único do país a ter cinco estrelas (conquistadas apenas em 2021), The Balmoral tem sido uma parte importante da beleza arquitetônica de Edimburgo por mais de um século.

Trata-se de um edifício imponente, com 187 quartos e suítes, que hoje pertence à rede Rocco Forte Hotels. A excelência da cozinha é garantida pelo restaurante Number One e pela Brasserie Prince. Um chá da tarde escocês é servido no Palm Court.

Mas nada se compara ao bar Scotch (foto abaixo), com mais de 500 uísques single malt. Para o gerente geral do hotel, Andrew McPherson, o reconhecimento de melhor da Escócia se deve não apenas pela combinação de arquitetura, história, restaurantes e bares, mas também pela hospitalidade. “Nossa equipe trabalha arduamente para proporcionar experiências memoráveis aos nossos hóspedes, e esperamos continuar oferecendo um serviço de classe mundial”, disse.

(Marc Millar)