Os tigres asiáticos estão de novo no olho do furacão. A desaceleração mundial está nocauteando as economias de Hong Kong, Coréia do Sul, Taiwan, Filipinas, Tailândia e Malásia. O motor que move esses países são as exportações e, como os Estados Unidos são o principal mercado, a retração americana está afetando duramente a Ásia. O irônico é que são os mesmos países que há menos de um ano bradavam para o mundo todo que a crise de 1997 já era passado. Naquele ano, todas as moedas asiáticas foram atacadas e o único país que não permitiu uma desvalorização foi Hong Kong, que tem um regime cambial semelhante ao da Argentina. Em todos os casos, a queda de atividade foi brutal ? na Coréia, o PIB retrocedeu quase 10% em 1998. Os prejuízos, somados, chegaram a US$ 1,7 trilhão e os tigres acabaram sendo socorridos pelo FMI. Mas como esses países voltaram a crescer aceleradamente em 1999 e 2000, gerando superávits comerciais de dezenas de bilhões de dólares, muitos analistas acreditavam que os tigres haviam acertado o passo.

Bem, as projeções mostram que as coisas não eram tão simples quanto pareciam. As economias asiáticas enfrentarão em 2001 uma estagnação econômica ou mesmo uma recessão. Segundo relatório mundial do banco West LB, divulgado há duas semanas, Hong Kong terá uma retração de 0,2% do PIB neste ano. Um desempenho pífio comparando-se com o crescimento de 10,5% em 2000. A Coréia, uma das principais vítimas da crise de 1997, vai crescer apenas 1,6%. Em 1999 e 2000, o salto no PIB foi de 10,9% e 8,8%, respectivamente. E Taiwan, depois de 26 anos de crescimento consecutivos, terá pela primeira vez um PIB negativo de 1,9%. Nem depois do furacão de 97, o resultado de Taiwan foi tão desastroso. É a maior freada da história.

Como tirar os tigres do caminho da recessão foi um dos temas do encontro da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec), que reuniu os ministros da Economia de todos os países asiáticos mais Estados Unidos e Austrália na cidade de Suzhou, na China. ?Já podemos prever quando será o pior momento da desaceleração e sabemos que a recuperação virá em seguida. Por isso, estamos confiantes?, disse o ministro chinês das Finanças, Xiang Huaicheng. Ao fim da reunião, duas correntes tinham propostas diferentes para o combate da recessão na região: uma, pretende reforçar laços comerciais com os EUA e pressionar o Japão a sair de uma recessão que já dura dez anos. Outra, estimular a demanda interna dos asiáticos para no futuro diminuir a dependência das exportações.

Mas o fato é que o problema de hoje foi a solução de ontem. A retomada dos tigres após a crise das desvalorizações foi construída na capacidade de exportar muito, especialmente produtos de alto valor agregado, como eletrônicos e equipamentos de telecomunicações. Com a economia mundial andando para trás, os produtos dos asiáticos estão encalhados. Em Taiwan, por exemplo, as exportações, que representam metade do PIB do país, recuaram 17% no segundo trimestre deste ano frente ao mesmo período do passado. Em Hong Kong, a queda foi de 12% nas vendas para o exterior durante o segundo trimestre. Esse resultado afetou o nível de investimento interno, que caiu 45% e isso, conseqüentemente, está espremendo o PIB. Na Coréia, a queda nas exportações também se reflete nos níveis de produção industrial. Em agosto, as fábricas coreanas reduziram a produção em 10,5%. Aliado a esse quadro, os estoques estão em alta e a margem de lucro das empresas deve diminuir. ?Nessas circunstâncias, é provável que alguns grupos empresariais asiáticos quebrem?, diz o professor Ernani Torres, da UFRJ.

Contágio. Apesar do tombo dessas economias, os efeitos deverão ficar restritos a suas fronteiras. ?Não há risco de um colapso financeiro como ocorreu em 1997?, diz Dalton Gardimam, economista-chefe para a América do Sul do Credit Lyonnais Securities Asia. Na época, os investidores internacionais especulavam contra as moedas locais, por considerarem que estavam sobrevalorizadas, o que culminou numa quebra dos regimes de câmbio fixo. Para piorar, o sistema financeiro não era nada sólido. ?Hoje, os investidores estão muito menos expostos, o que evita o contágio financeiro?, diz Gardimam. Mas, assim como o modelo asiático foi considerado falido em 97 e reabilitado nos anos seguintes, pode ser que, mesmo com a crise atual, os tigres voltem a rugir mais cedo do que se imagina.