11/02/2009 - 8:00
Bastou o governo federal mencionar a possibilidade de criar um pacote para estimular a venda de imóveis e as ações do setor imobiliário deixaram de ser implodidas na bolsa. O volume da concessão de empréstimos de R$ 30 bilhões no ano passado, crescimento de 64,4% em relação a 2007, veio colado na expectativa das instituições financeiras em repetir o desempenho em 2009. Foi o suficiente para os investidores se voltarem para os canteiros de obras. Enquanto o Ibovespa prepara o cimento da sua recuperação ao acumular ganhos de 9,5% até a quinta-feira 5, nove construtoras e incorporadoras assentaram seus tijolos e estão rendendo mais para os seus acionistas do que a média das ações mais negociadas na BM&FBovespa.
RECUPERAÇÃO NA PLANTA:, papéis do setor de construção estão entre os destaques de 2009
A Gafisa, que se desvalorizou 68,2% no ano passado, rende 23,5% em 2009. De papel mais penalizado em 2008, com 93% de perdas, a Abyara aparece em segundo lugar com 18,5% de retorno. A proposta do governo de elevar de R$ 350 mil para R$ 500 mil o valor do imóvel que pode ser financiado com recursos do Fundo de Garantia e o subsídio para quem tem renda de até R$ 2,5 mil na aquisição da casa própria são fundamentais para as construtoras venderem as unidades lançadas no ano passado e que entrarão no mercado neste ano. Atenção à temporada de balanços. A Rossi Residencial divulgou seus números preliminares na quinta-feira 5 e viu sua ação desmoronar 5,6%, enquanto o Ibovespa subiu 2,4%. O investidor continua temeroso com os resultados.
DESTAQUE NO PREGÃO
Consolidação da energia
O Grupo Camargo Corrêa vislumbrou uma oportunidade de diversificação no setor de energia.A companhia comandada por Vitor Hallack abocanhou a fatia que a Votorantim mantinha na VBC, empresa criada pela construtora, pela empresa dos Ermírio de Moraes e pelo Bradesco na época da privatização da CPFL. O Bradesco já tinha negociado a parte dele e agora a Camargo pagou R$ 2,5 bilhões para ficar com 28,6% dos papéis da CPFL, que atua em três frentes: distribuição, geração e comercialização de energia. A expectativa de Hallack é que o presidente Wilson Ferreira Júnior, da CPFL, seja agressivo nas aquisições e passe a engolir pequenas distribuidoras. Essa é a maneira de incrementar a participação atual de 13% nesse mercado.
PALAVRA DE ANALISTA
A negociação da Camargo Corrêa com a Votorantim não altera o dia-adia do negócio da CPFL. ?Não houve troca de controle e ela não passará a deter o controle acionário?, diz Renato Pinto, analista da Fator Corretora. A maior fatia da companhia de energia está com a Previ, que detém 31% das ações. Além disso, por fornecerem um item de primeira necessidade, CPFL e concorrentes como Copel e Cemig podem ser bons investimentos. É a chamada compra defensiva pelos analistas. ?Se o efeito da crise for grande no setor elétrico, é porque vários outros já perderam muito?, afirma Vicente Kokai, analista da Banif. Os papéis do setor estão em revisão pela corretora.
BRADESCO
O último lucro de Cypriano
O Bradesco abriu a temporada anual de resultados. Na última apresentação de Márcio Cypriano no comando do banco, na segunda-feira 2, o lucro líquido de R$ 7,62 bilhões no ano passado foi 4,9% menor que o de 2007. ?O resultado geral do banco foi fraco, apesar do aumento da carteira de crédito e da margem financeira ajustada?, destacou a Ativa Corretora. O crédito teve um crescimento de 33,4% puxado pelo segmento empresarial. E a margem financeira cresceu 15% impulsionada pelo spread.
De acordo com a avaliação da Ativa, o lado negativo foi o aumento de 13,9% nas despesas administrativas, incluindo o corpo de funcionários, e a piora de 0,2 ponto percentual no índice de eficiência operacional, que acumula 42%.
QUEM VEM LÁ
Crédito em bolsa
O BNDES e a Febraban analisam as condições de mercado para criar um Fundo de Direito Creditório (FIDC), que teria como objetivo abastecer de recursos os bancos pequenos e médios que viram suas fontes de captação secarem a partir do início da crise mundial. Pelos primeiros estudos, esse fundo, que terá como principal financiador o Tesouro Nacional com o aval do banco comandado por Luciano Coutinho, teria capital de R$ 5 bilhões. Para o investidor, seria a oportunidade de aumentar a participação na negociação do mercado de renda fixa da BM&FBovespa. Fundos de recebíveis já estão ga-nhando fôlego com a procura de investidores por dívidas de empresas sólidas, que estão utilizando o FIDC como uma fonte alternativa de captação.
FIQUE DE OLHO: para conhecer as negociações com títulos de renda fixa, o investidor deve procurar pelo mercado Bovespa Fix ou Soma Fix.
TOURO X URSO
A alta de 4,6% do Ibovespa de segunda a quinta- feira da semana passada animou os investidores. No ano, a bolsa brasileira se valorizou 9,5%. Será que a barreira dos 40 mil, finalmente, foi ultrapassada? É difícil dizer que sim. Mas nesta semana são poucos os dados econômicos que podem influenciar o desempenho do mercado acionário. A volatilidade deve continuar, com pequenos ganhos no final do pregão.
A desconfiança com os fundamentos sólidos da bolsa pode ser determinante para a virada da bolsa. O investidor pode decidir por realizar seu pequeno lucro e derrubar o mercado. Dados sobre empregos e salários em dezembro, que o IBGE divulga na segunda 9, podem apimentar o debate sobre o encolhimento do mercado de trabalho e o corte de investimento das companhias. Nos EUA, a expectativa gira em torno dos estoques das empresas.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
O Itaú, de Roberto Setubal, lançou sua primeira cartilha do uso consciente do dinheiro. São sete volumes que trazem textos curtos e de fácil compreensão. As fases da vida foram divididas em quatro períodos: acumular, evoluir, consolidar e usufruir os bens. O investimento em ações é indicado até a terceira fase, quando o patrimônio deve estar pronto. Um alerta sempre presente: fique atento à diversificação.
MERCADO EM NÚMEROS
VIVO
R$ 2,7 bilhões
é o investimento que a Vivo deve realizar em infra-estrutura este ano. Apesar de não apresentar os números na sua assembleia, a companhia confirmou que os investimentos serão no mesmo nível do ano passado.
FOSFÉRTIL
R$ 3,4 bilhões
foi a receita líquida da Fosfértil no ano passado, crescimento de 41,6% em relação a 2007. O lucro líquido de R$ 772,6 milhões foi 74% maior que no ano anterior.
BM&FBOVESPA
6,5%
foi a queda no giro financeiro médio diário da BM&FBovespa em janeiro na comparação com dezembro. No primeiro mês do ano a média foi de R$ 3,6 bilhões.
ELETROPAULO
R$ 151,2 milhões
foi a dívida paga pela Eletropaulo com a massa falida do Banco Santos referente a contratos vencidos de swap cambial. A companhia de energia elétrica também anunciou investimentos de R$ 7,8 bilhões, o dobro do montante de 2008.
ULTRAPAR
R$ 15 milhões
é a proposta de aumento de capital que a Ultrapar fará para seus acionistas na assembleia de 11 de fevereiro com a emissão de 15 milhões de novas ações.
USIMINAS
69,2%
é a redução na proposta da Nippon Steel para ficar com a participação acionária da Vale na Usiminas. Em maio, a siderúrgica japonesa ofereceu R$ 1,3 bilhão. O acordo deve ser fechado por R$ 400 milhões, o que vai elevar a participação da Nippon Steel de 23,3% para 29,2%.
Segredo bem guardado
” Humanos tendem a permanecer em um mercado no qual estão perdendo”
CHRISTIAN BAHA, presidente do Superfund
Ogestor de investimentos Christian Baha, do austríaco Superfund, prepara-se para lançar em 2009 um novo fundo para investidores brasileiros. Não é uma aplicação comum por aqui. Todas as operações nos mercados de derivativos financeiros e de commodities são feitas automaticamente por um programa de computador. O Superfund, com várias combinações de risco e patrimônio de US$ 1,6 bilhão, tem tido um bom desempenho, mesmo em momentos de crise. ?Somos o mais bem guardado segredo de Wall Street?, afirma Baha.
DINHEIRO – Como foi o resultado da família de fundos Superfund no último ano?
BAHA ? Ficamos acima da média. Os fundos de futuros subiram 15% no ano passado. O nosso fundo Classe A, mais conservador, subiu 35%. O mais agressivo, 75%. Ainda há preconceito, mas com a crise, os fundos eletrônicos ficarão mais populares. Falam que somos uma caixa-preta. Ora, ninguém conhece a fórmula da Coca-Cola, mas todos continuam bebendo.
DINHEIRO – O Superfund é 100% gerenciado eletronicamente?
BAHA ?Sim. Claro que, por trás de tudo, há programadores, analistas de mercado, PHDs em matemática e estatística e especialistas na metodologia de negócio que criamos.
DINHEIRO – Basta tirar os humanos do caminho?
BAHA ? Basicamente, é isso. É futurista, mas já existe. No avião, por exemplo, você voa confiando no computador.
DINHEIRO – Como o sistema ganha em um cenário em que a maioria das pessoas está perdendo?
BAHA ? É simples. Os mercados futuros existem há mais de 100 anos e há bolsas de futuros no mundo todo. Pode-se fazer negócios em qualquer tipo de mercado, em queda ou em alta. O sistema descobre uma tendência e tentamos abrir uma frente nessa direção. Se a tendência irá ser quebrada ou mesmo for indefinida, depois que entramos na transação saímos imediatamente. O sistema sabe quando sair antes de entrar no mercado. A diferença é que os humanos tendem a permanecer em um mercado no qual estão perdendo. Esperam que a bolsa, por exemplo, se recupere. Isso pode ser perigoso.
DINHEIRO – Como vê a tendência para o mercado de ações em 2009?
BAHA ? Em minha opinião, haverá uma queda de longo prazo nos mercados mundiais. O efeito dominó começou. As taxas de desemprego estão crescendo. Outras empresas estão tendo grandes problemas. Todas as empresas de investimentos foram muito afetadas. É só o começo de algo que pode durar alguns anos. Infelizmente.
DINHEIRO – O Superfund continuará a se sair bem?
BAHA ? Honestamente, nunca sabemos o que vai acontecer.
PELO MUNDO
SANTANDER LUCRA MENOS
O espanhol Santander lucrou ? 8,88 bilhões no ano passado, 2% a menos que em 2007.A crise internacional e a recessão na Espanha elevaram os empréstimos considerados ruins para ? 14,2 bilhões.
O PREJUÍZO DE MURDOCH
A News Corporation, o império de mídia do bilionário Rupert Murdoch, registrou prejuízo de US$ 6,4 bilhões no quarto trimestre de 2008. Este resultado, disse Murdoch, é o reflexo da rápida deterioração da economia nos três últimos meses do ano passado. A ação da companhia, em queda de 27% em 30 dias, fechou a quinta 5 com pequena alta de 0,33%.
DEUSTCHE NO VERMELHO
O presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, está confiante para 2009. O aumento da receita em janeiro, para ? 2,8 bilhões, é um bom sinal, afirmou. ?Vamos emergir mais fortes da crise?, disse ele. No quarto trimestre de 2008, o maior banco da Alemanha perdeu ? 4,8 bilhões, levando ao primeiro prejuízo anual em mais de 50 anos. As ações caíram 9,6% em Frankfurt logo após o anúncio do resultado: prejuízo de ? 3,9 bilhões no ano passado.
A LISTA DE MADOFF
Após algumas semanas de expectativa, foram divulgados os nomes dos investidores que aplicaram seus recursos nos fundos de investimento de Bernard Madoff. Com 163 páginas, estão entre os milhares de prejudicados o ator John Malkovich, o apresentador de talk show Larry King, o senador democrata Frank Lautenberg e o investidor do mercado imobiliário Larry Silverstein. O total das perdas é de US$ 50 bilhões.
Com Márcio Kroehn
AVISO ? Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú e Redecard