A renúncia do executivo italiano Marco Patuano da presidência da empresa de telefonia Telecom Italia pode ter reflexos no mercado brasileiro de telecomunicações. Sabe-se que Patuano considerava a TIM, o braço do grupo italiano no Brasil, um ativo estratégico.

Assim como se tem conhecimento que os franceses da Vivendi, que passaram a ser os maiores acionistas da Telecom Italia, com 24,9% de seu capital, teriam interesse de deixar o País.

Essa posição pode ser explicada pela estratégia de Vincent Bolloré, chairman da Vivendi. Ao longo dos anos, ele apoiou a venda de diversos ativos de telefonia, inclusive da brasileira GVT, comprada por mais de R$ 20 bilhões pela espanhola Telefônica, em 2014.

Com base nessas duas informações, pode-se concluir que a saída de Patuano, que foi substituído interinamente por Giuseppe Recchi, líder do conselho de administração, abre-se caminho para a venda da TIM ou sua fusão com a endividada Oi?

No setor de telefonia, no entanto, dois mais dois não é exatamente igual a quatro. Tal qual uma partida de xadrez, esse jogo não será decidido rapidamente. A mudança do comando da Telecom Italia foi apenas mais um lance, de uma série de outros que podem acontecer nos próximos meses, segundo fontes ouvidas pela DINHEIRO.

“Bolloré pensa em longo prazo”, diz uma fonte do setor. “Ele só venderá a TIM quando o ativo estiver valorizado, o que não é o caso agora.”

Na visão deste executivo, a saída de Patuano deve-se mais a questão de estilo de gestão. Ele tinha uma visão industrial para a Telecom Italia. Bolloré, por sua vez, aposta em conteúdos de tevê, filmes e música. “Não havia química entre eles”, diz essa fonte.

De acordo com outra fonte da área, tudo pode acontecer, mas não existem condições para um negócio no curto prazo. Explica-se: há questões que precisam ser resolvidas, antes de a TIM Brasil e a Oi sentarem à mesa novamente para negociar uma fusão.

Uma delas é a enorme dívida da Oi, de R$ 60 bilhões. A operadora brasileira contratou a assessoria americana PJT Partners para ajudá-la na reestruturação de seus débitos. Nos bastidores, comenta-se que uma recuperação judicial não está descartada, mas que este seria o último recurso.

O outro problema é regulatório. Hoje, a Oi é uma concessionária. Com isso, precisa seguir regras de universalização na telefonia fixa. Caso se transforme em uma autorizada, essas regras poderiam ser flexibilizadas e abriria espaço para uma negociação entre TIM e Oi.

Além disso, o fundo LetterOne, do bilionário russo Mikhail Fridman, que desistiu de investir US$ 4 bilhões para financiar a fusão das duas operações, precisa voltar a ter interesse no negócio. Procuradas, TIM e Oi não quiseram se manifestar.