Procuradores que acompanham a investigação de políticos envolvidos em  denúncias de corrupção na Operação Lava Jato sustentam que a situação  do senador Delcídio Amaral (que pediu desfiliação do PT esta semana) e  do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, embora apresentem  semelhanças, são distintas. Ambos foram flagrados em gravações  oferecendo ajuda a investigados pela Justiça.

Delcídio foi  preso preventivamente e cumpriu 87 dias de reclusão, embora não tenha  perdido o mandato de senador. Teve prisão revogada pelo Supremo Tribunal  Federal em fevereiro e será alvo de julgamento pela Comissão de Ética  do Senado. Mercadante deve ser alvo de inquérito, mas sem ordem de  prisão. Também permanece no Ministério. Tratamentos diferentes para o  que a Procuradoria-Geral da República entende como situações distintas.

Mas  há também muitas semelhanças. No caso de Delcídio, o senador ofereceu  ajuda à família do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. Já  Mercadante foi gravado em conversa com um assessor de Delcídio Amaral,  na qual oferece apoio ao ex-líder do governo e ajuda à sua família.

Duas  peculiaridades levaram à prisão de Delcídio. O primeiro ponto é o fato  de o senador indicar de forma bastante concreta situações que poderiam  obstruir as investigações da Lava Jato. O parlamentar traça nas  gravações, feitas pelo filho de Cerveró, uma rota de fuga para o  ex-diretor da estatal, inclusive com menção aos países pelos quais  Cerveró passaria e o avião que deveria ser utilizado para deixar o País.

Já Mercadante, na visão de investigadores, faz ofertas de ajuda mais genéricas, menos concretas.

O  que foi crucial para evitar a prisão do ministro, no entanto, foi o  momento em que a PGR teve acesso às gravações. No episódio envolvendo  Delcídio, as gravações foram entregues à Procuradoria antes que a  delação de Cerveró fosse fechada. Os investigadores entenderam,  portanto, que se o senador continuasse a atuar livremente poderia  alcançar o que pretendia e atrapalhar o andamento da investigação, ao  evitar depoimentos do ex-diretor da Petrobrás.

No caso de  Mercadante, no entanto, apesar de as gravações datarem de dezembro, só  chegaram às mãos dos investigadores em fevereiro, quando o acordo de  colaboração de Delcídio Amaral já havia sido consumado. A despeito da  investida de Mercadante, portanto, a delação fora fechada. Por isso,  para a PGR, não cabia pedido de prisão preventiva, já que a tentativa de  atrapalhar as investigações foi frustrada.