10/10/2007 - 7:00
A Timken é uma daquelas empresas curiosas. Todo mundo usa seus produtos, mas muitos nem a conhecem. Fundada há mais de 100 anos nos EUA, a companhia produz rolamentos industriais, automotivos e ferroviários. No Brasil, desembarcou em 1960 com os olhos voltados para o setor automotivo. Chegou a ter quatro mil funcionários, a produzir cerca de 20 milhões de peças/ano e, há cerca de três anos, planejava expandir sua unidade de 17 mil m2, às margens da Marginal Pinheiros, em São Paulo. Hoje, os planos são outros. A fábrica será fechada. A decisão foi da matriz. Um realinhamento mundial tirou o Brasil do mapa produtivo do grupo. Boa parte dos itens aqui fabricados também saem das linhas de produção de outras filiais ? e com custos mais baixos. A brutal desvalorização do dólar nos últimos tempos foi a pá de cal na subsidiária brasileira. Outro motivo foi a crise na indústria automotiva americana. Afinal, 65% da produção brasileira saía direto do Porto de Santos para os EUA. A empresa passará a importar os rolamentos industriais e automotivos de outras fábricas e os venderá por aqui. O processo será concluído até março de 2008. ?A companhia estava perdendo dinheiro com o setor automotivo?, explica Andrew Frisbie, diretor-geral da subsidiária. As operações no País, no entanto, continuarão a crescer ainda que sobre trilhos diferentes, garante ele. ?Queremos que as operações brasileiras signifiquem bem mais do que os atuais 2% do faturamento global de US$ 5 bilhões do grupo.?
Não é exagero pensar que só no Brasil um caso desses acontece. No momento em que a economia cresce 5% ao ano, que a indústria automotiva registra recorde histórico, com a produção de quase três milhões de automóveis, e que o setor de autopeças irá faturar mais de US$ 34 bilhões ? em um movimento sustentável, como mostra o gráfico abaixo ?, uma fábrica de componentes automotivos fecha as portas. E, pior, importará produtos que eram feitos aqui. A desativação da fábrica já está em seus momentos finais. Dos quatro mil funcionários dos tempos áureos, restam cerca de 400. Desses, apenas 100 serão aproveitados no centro de distribuição construído nos arredores de São Paulo. Os demitidos recebem, além dos direitos trabalhistas, um pacote de benefícios, como indenização, assistência médica e odontológica, além de ajuda para se recolocarem no mercado. De qualquer forma, quase quatro mil postos de trabalho foram extintos e o Brasil perdeu uma fábrica. Frisbie vê de outro modo. O trabalho difícil, afirma ele, foi necessário para manter o grupo viável. Agora, a saída é olhar para a frente. Já no ano que vem, a Tinkem amplia a linha de produtos oferecidos no Brasil, como graxas, ferramentas industriais e instrumentos para medir o bom funcionamento dos rolamentos. As vendas ficarão sob a responsabilidade de 35 distribuidores e as peças sairão do centro a ser construído nos próximos meses. A empresa, como se vê, continuará crescendo, mas o Brasil perdeu uma batalha.