O preço das tintas no mundo tem sido impacto por tarifas comerciais desde antes do tarifaço do presidente americano Donald Trump. No Brasil, a indústria química tem sido afetada por uma taxação imposta pelo governo brasileiro sobre um dos principais insumos para a fabricação de tintas.

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O presidente da AkzoNobel para a América Latina e Ásia, Daniel Campos, conta ao Dinheiro Entrevista que por conta de um viés de nacionalização da produção, alguns insumos possuem tarifas incidentes que fazem o produto final produzido no Brasil ficar mais caro. A companhia, é uma multinacional holandesa dona de marcas como a Coral Tintas, Sikkens e International.

Atualmente o Brasil tem uma produção nacional de dióxido de titânio, mas não o suficiente para suprir a demanda do mercado doméstico por esse insumo fundamental na produção de tintas. A alíquota, dessa forma, visa equilibrar a concorrência e incentivar a produção nacional.

“Aqui temos tarifas muito diferentes [do restante do mundo] porque temos uma produção local mas você ainda precisa da importação (…). A dosimetria é o grande desafio”, diz Daniel Campos.

‘Mais punitivo do que deveria’

Questionado se considera as tarifas mais altas do deveriam, o executivo disse: “Eu acredito que, dadas as situações de câmbio que temos hoje em dia, muito do que está em voga passa a ser mais punitivo do que deveria, quando as contas foram feitas. Isso precisa sempre ser considerado”.

O executivo se refere a uma medida antidumping provisória sobre as importações de pigmentos de dióxido de titânio do tipo rutilo originárias da China. A decisão data de outubro de 2024, quando o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (GECEX) aplicou alíquotas para importadores.

Em vez de tarifas que são um percentual, a medida fixa um valor nominal como tarifa para importação de dióxido de titânio. Hoje as tarifas são de:

  • LB Group Co., Ltd.: US$ 577,73 por tonelada
  • Anhui Gold Star Titanium Dioxide (Group) Co., Ltd.: US$ 654,42 por tonelada
  • Outros exportadores não listados: até US$ 1.772,69 por tonelada

Segundo Daniel Campos, a indústria ‘fica se adaptando e tomando decisões com base nisso’, tentando contornar a questão, e que a mesma discussão ocorre em outras nações – como a Europa, que também aprovou um antidumping para o tema recentemente e a Índia, onde esse assunto está em discussão.

‘Capacidade ociosa na China gera distorções’

A implementação das tarifas e medidas antidumping é recente, mas nem tanto. Campos explica que o tema ganhou espaço dentro das discussões comerciais após a pandemia, pelos efeitos do fenômeno nas cadeias de suprimento globais.

“[Esse debate] é de nem tão longa data. O tema da nacionalização tem alguns anos. Mas a discussão começou muito depois da pandemia, quando se discutia o final das cadeias globais. Você começa a ter o nearshoring, o friendshoring, você fala de resiliência das cadeias de abastecimento….no meu setor, você começa a ver a construção na China caindo muito a partir da crise das grandes construtoras. Você tem vários imóveis na China que não estão habitados e alguns nunca sejam habitados, e aí você gera uma capacidade ociosa de produção química na China, que busca algum lugar e gera distorções no mercado. As cadeias todas estão muito balançadas desde a pandemia, e se soma a isso [atualmente] todo o tema geopolítico”, explica Campos.

O executivo da AkzoNobel também preside o Conselho Diretivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati) desde 2024. Nessa posição, conta que tem mantido o diálogo com o governo acerca do tema.

“Acho que todos os lados precisam ser escutados e a conta econômica precisa ser bem feita. Também não acho que free for all é a solução, mas o que me preocupa é se todas as vozes foram escutadas nessas diferentes discussões e se todos os impactos foram calculados. Nós vamos ao governo expor o que está acontecendo no setor e temos sido escutados. Algumas vezes escutados depois que as coisas aconteceram, mas ainda assim escutados – e isso é parte do processo democrático”, afirma o executivo da AkzoNobel acerca das tarifas.