Apesar de ser, na minha visão, a maneira mais lógica, sensata e recompensadora de criar valor ao longo do tempo, value investing é muito complicado. O investidor tem que estar preparado para nadar contra a maré durante um certo período, perder dinheiro (ou na melhor das hipóteses, não ganhar) no curto prazo e, o mais difícil, parecer estar errado perante seus pares boa parte do tempo.

Se essa já é uma tarefa árdua em mercados maduros como o americano, é exponencialmente mais complexa em países como o Brasil. E não deveria ser assim, pois, na minha opinião, é relativamente mais fácil identificar onde há valor escondido no País do que nos Estados Unidos. O Brasil é um mercado em expansão, onde há muita coisa básica pouco e/ou mal explorada e onde os ‘moats’ das empresas são mais aparentes. Nos EUA, para encontrar esse tipo de empresa é preciso cavar bem mais fundo.

+ Alguém prestou atenção na Fitch?

Apesar disso, o value investor brasileiro precisa ter muito mais disciplina do que o americano. Se identificar valor escondido e não precificado pelo mercado é mais simples, o processo de investir esperando que este valor seja realizado no tempo é muito mais penoso. As companhias negociadas em bolsa e que fazem parte do universo de value investing têm significativamente menos liquidez e são, em geral, as primeiras a cair quando o mercado como um todo cai. Ao mesmo tempo, são as últimas a subir quando o mercado, de maneira geral, sobe. E, como se não bastasse, tendem a cair muito mais que o mercado quando ele cai, e subir muito menos quando ele sobe.

O value investor que opera no Brasil fica exposto, em primeiro grau, aos riscos macroeconômico e político. Em segundo grau, se expõe ao risco idiossincrático das companhias investidas. Além de sofrer a competição de uma taxa de juros em dois dígitos, que sempre foi o maior concorrente ao desenvolvimento de um mercado de capitais suficientemente líquido.

Pensando de maneira racional, ser value investor no Brasil parece ser uma loucura. Certa vez, um amigo me disse algo que me marcou, como marcam as verdades que são ditas a sangue frio: “Zaiet, no Brasil não existe value investing. Esquece.” Meu treino em value investing me ensinou a ter uma disposição que beira, sim, a pura obstinação. Essa minha insistência, porém, é baseada em modelagem. O que era barato há dois anos está muito mais barato hoje, apesar de o ambiente de juros ter mudado completamente. Como diz Howard Marks, legendário investidor americano e cofundador da Oaktree Capital Management, “no mundo real as coisas geralmente flutuam entre o ‘muito bem’ (pretty good) e o ‘não tão bem’ (not so hot). No mundo dos investimentos, no entanto, a percepção oscila entre a ‘perfeição’ (flawless) e o ‘completo desastre’ (hopeless)”. No Brasil de hoje, a percepção é de completo desastre. A realidade, porém, não é bem assim.

Depois de pensar muito, cheguei à conclusão que meu amigo está errado. Existe, sim, value investing no Brasil. Só é mais difícil, leva mais tempo e requer muito mais resiliência do que o normal.

E exige, com certeza, uma boa dose de teimosia.