07/02/2022 - 10:59
Um estudo divulgado nesta segunda-feira, 7, aponta que três em cada quatro escolas da rede municipal do Rio estava em alguma área onde houve pelo menos um tiroteio em 2019. Naquele ano, as instituições de ensino que ficaram mais expostas registraram pelo menos dez operações policiais em seu entorno. Em cinco dessas escolas, houve pelo menos 20 ações com troca de tiros. O estudo também descobriu que houve queda no aprendizado de português e matemática nos estabelecimentos de ensino em áreas onde correm confrontos.
Os dados fazem parte do estudo “Tiros no Futuro”, realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). Trata-se da segunda etapa do projeto “Drogas: Quanto Custa Proibir”. Os números se referem a 2019 pelo fato de ter sido o último ano com aulas 100% presenciais na capital fluminense. Depois, veio a pandemia de covid-19.
Para chegar ao registro total de escolas em meio a áreas conflagradas, os pesquisadores fizeram um convênio com a Secretaria Municipal de Educação (SME). Avaliaram dados das 1.577 unidades de ensino da rede pública carioca. Em 2019, haviam 641.534 alunos matriculados nas escolas do Rio.
Eles também analisaram os registros da plataforma Fogo Cruzado. A plataforma colaborativa compilou 4.346 tiroteios na cidade do Rio à época . Diretores de escolas foram entrevistados.
“A partir destes dados, foi possível identificar 1.154 (74%, três em cada quatro) unidades da rede municipal de ensino fundamental do Rio que foram afetadas por pelo menos um tiroteio com a presença de agentes de segurança pública”, diz o relatório. “O estudo aponta que, em média, as trinta escolas do 5º ano do primeiro ciclo do Ensino Fundamental mais expostas à violência registraram 19 tiroteios com presença do Estado neste período.”
Outro aspecto que o relatório mostra é que no entorno das escolas onde houve maior incidência de tiroteios, 77% dos alunos eram negros.
Tiros perto das escolas provocaram redução no aprendizado e evasão escolar
O relatório também analisou a proficiência de alunos do 5º ano em escolas instaladas próximas a áreas de confronto, considerando o aprendizado em língua portuguesa e matemática. A série foi escolhida para o recorte porque o índice de evasão escolar nesse período do ensino costuma ser baixo.
Os pesquisadores cruzaram dados da SME/RJ e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Constataram que alunos nessas condições tiveram uma redução média de 7,2 pontos no desempenho em Língua Portuguesa e 9,2 em Matemática.
“Considerando o ganho médio anual de proficiência esperado, a exposição à violência resulta em uma perda de 64% do aprendizado esperado em Língua Portuguesa e, em Matemática, a perda é de todo o aprendizado que o aluno deveria adquirir nessa etapa de ensino”, sustentam os pesquisadores.
Além disso, exposição frequente a tiroteios envolvendo agentes de segurança pode gerar um aumento de 2,09% na taxa de reprovação e de 46,4% na probabilidade de ao menos um dos alunos dessas escolas abandonar o ensino.
Essa defasagem no estudo também impacta a renda futura. Os pesquisadores calcularam que um trabalhador da cidade do Rio pode deixar de ganhar R$ 24,7 mil em decorrência da redução de aprendizado em Português e Matemática. O valor seria equivalente a um “imposto” de 4% a ser pago pelo indivíduo sobre os rendimentos de toda a sua vida produtiva.