O maior deles é ter acreditado que o Brasil atual tem o mesmo modelo do Brasil que ele governou

Então. O presidente não está sabendo agir com o fato de que metade do Brasil o odeia e vê nele um ladrão solto. Mesmo que isso seja tecnicamente mentira. Também não está sabendo lidar com o fato de que seu papel internacional está longe de ser o de um protagonista – se como Lula II ele foi enganado na cara dura por Barack Obama, no caso do acordo para o programa nuclear iraniano, agora nem isso ele deverá receber de Joe Biden ou Xi Jinping. Também mudou a forma de levar o Congresso. Mensalões e cargos em estatais são coisas do passado. Esta Câmara & Senado têm muuuuito mais poder e colocaram no bolso o Bolso, que, vale lembrar, foi um medíocre deles por quase três décadas. O Lula presidente III vive hoje no parlamentarismo. Modelo que nasce graças a uma Constituição cidadã que permite a juiz que vende sentença não parar na cadeia, mas sim num ‘Momento Pix’ de salário integral. Um texto que permitiu ao Congresso criar regras próprias. É Alice no País das Maravilhas. Sem a Alice. Sem as maravilhas.

E esse desprezável mundo novo não está sendo bem digerido pelo novo capitão da República. O passo 1 será esquecer Moro – aliás, que estranhíssima essa operação da PF em que as únicas evidências (ATÉ AGORA) são falas da própria PF e de alguns membros da Justiça de sempre. O passo 2 será ignorar JB, que supostamente deixará a Disneylândia. A propósito, Lula III precisa aprender sobre algoritmos para descobrir uma regra básica: o oposto do amor não é o ódio, é a indiferença. Silenciar sobre o ex-presidente será uma arma poderosa. O passo 3 será deixar a economia na mão de profissionais. A Lula cabe lutar para que o abismo de desigualdade nacional recue, e isso começa por uma coisa muito básica: a inflação. Seu controle é visceral e nuclear para que o pobre fique menos pobre. Será ela domada que fará o juro ter espaço para cair – ainda que a nova régua fiscal seja uma tranqueira. Isso leva ao passo 4. O Banco Central não é Roberto Campos Neto. Mas Roberto Campos Neto é o melhor nome à frente do BC neste momento. O passo 5 é calar a boca e trabalhar.

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E o local de trabalho de Lula é um campo que ele domina: o ambiente político. Lula terá de descer ao Congresso. OK, as profundezas se acentuaram. Mas está lá seu ambiente de trabalho. Nada de home office. Nada de Tour 2023 pelo mundo. As entranhas do nosso corpo parlamentar dominado por um Congresso rude, tosco, malandro, ignorante, retrógrado, atrasado e com tendências não republicanas é o verdadeiro mandato de Lula III. Um job description nada nobre. Mas quem disse que seria? Atuar no mangue, presidente. Enfiar a mão no lodo para fazer o Parlamentarismo Nodoso voltar a ser um poder menor e que o Presidencialismo restabeleça seu espaço. Hoje, senhor Lula, sem Arthur Lira você mal aprova Dilma Rousseff no banco do Brics. E nem adianta cevar ou recriar estatais. O dindim dos salários, bônus ou jetons de reuniões dos conselhos de administração delas é quase dinheiro de pinga neste Brasil modelo Século 21. Gritar, espernear ou falar bobagens, como o senhor anda fazendo, só tem atrapalhado. Parece aquele craque que voltou a ser contratado pelo time que o revelou e no retorno joga como um juvenil. De sua performance queremos mais, Lula. Em suma, enquanto o senhor não mergulhar na política, nada funcionará na economia.