A cidade de Rio Verde ainda é recortada por estradas de terra, daquelas que se transformam em trilhas de barro a qualquer pancada de chuva. Apesar disso, os caminhões-frigoríficos da Perdigão não param de ir e vir. A companhia é a grande âncora empresarial do município, que fica a 220 km de Goiânia (GO). Há duas semanas, uma nova leva de investimentos foi anunciada: até 2007, serão R$ 200 milhões. Trata-se do maior complexo agroindustrial do Brasil e um dos mais importantes da América Latina. Com 2 milhões de m2, o espaço teria condições de abrigar 260 campos de futebol. Dali saem, por ano, 60 mil toneladas de frango, 30 mil toneladas de suíno e 90 mil toneladas de produtos industrializados. O destino? Catorze países, além do mercado nacional. Até o final de 2007, o volume de abates de aves, por exemplo, deverá crescer 100%. ?O País é responsável por 20% das aves consumidas em todo o mundo. Temos capacidade para aumentar ainda mais esse número?, diz Nildemar Secches, presidente da Perdigão.

Assédio. O executivo não é o único a apostar no potencial da companhia. Aos olhos do mercado, a Perdigão é exemplo de boa administração. Por esse motivo, não faltam admiradores. Exemplo: no final do ano passado, a GP Investimentos tentou comprar a companhia por R$ 500 milhões, mas o valor foi considerado baixo pelos acionistas. Antes disso, o mercado chegou a apostar na venda para a Sadia, mas a união limitou-se a um projeto de exportação, desfeito no ano passado. Tudo indica, porém, que o assédio não acabou. Dessa vez, os rumores apontam para a americana Sara Lee, que atua no mesmo segmento que a Perdigão. ?O negócio faz sentido para a Sara Lee, já que a empresa vem buscando uma forma de deslanchar de vez no Brasil?, diz um analista do setor. A Perdigão prefere não comentar o assunto, mas um ponto é certo: quem quiser levar a empresa terá que negociar com um time de peso. Entre os acionistas majoritários estão nada menos que Previ (caixa de previdência do Banco do Brasil), Petros (fundo da Petrobras) e BNDES. Eles assumiram em setembro de 1994, quando a empresa estava mergulhada numa crise administrativa e começava a perder mercado. A reestruturação deu certo. Em oito anos, o faturamento cresceu 80% e hoje as vendas da Perdigão chegam a R$ 3 bilhões. Desse total, 35% são exportados ? apesar das constantes restrições impostas por alguns países. A briga para entrar no mercado canadense, por exemplo, já dura 5 meses. ?Além de conviver com as intromissões dos EUA, temos problemas internos. Falta gente especializada no governo?, explica Secches.

Fome Zero. Enquanto no exterior a Perdigão enfrenta algumas barreiras, no mercado nacional as perspectivas são boas. Afinal, nada melhor do que um programa de combate à fome para animar a indústria alimentícia. ?O mercado está apostando no sucesso do Fome Zero?, diz o presidente. A expansão da planta de Rio Verde vem confirmar essa expectativa. A unidade precisa estar a postos para quando o mercado internacional diminuir as barreiras ao frango brasileiro. Com esses fatores conjugados, a Perdigão tem tudo para estar entre os maiores produtores do planeta. Ao todo, são 13 unidades industriais de carne, além de 7 mil propriedades rurais. A mesma força que atrai a cobiça do mercado coloca a Perdigão na posição de compradora. Explica-se: a empresa é uma das poucas em condições de salvar a concorrente Chapecó, mergulhada em dívidas de R$ 134 milhões. Secches desconversa: ?Vamos nos concentrar em Rio Verde?.

A cidade é estratégica. Em Rio Verde, a Perdigão tem acesso aos principais produtores de soja ? que serve de alimento para a criação e representa um dos principais custos da companhia. A unidade já consumiu R$ 700 milhões em investimentos, quantia suficiente para mudar o perfil da cidade. Hoje, o município é um dos principais pólos agroindustriais do País. A chegada da Perdigão, em 1999, despertou o interesse de gigantes como Orsa e Cargil. No último ano, a arrecadação de Rio Verde cresceu 41%. ?Não temos problemas de emprego?, diz Avelar Macedo, secretário da Indústria e Comércio local. Somente a Perdigão gera 13,7 mil empregos, entre diretos e indiretos. A expansão anunciada pela empresa deve exigir outros mil funcionários. É que outros itens estarão, em breve, na linha de produção, entre eles, presunto, mortadela e hambúrguer. São novos ingredientes para aguçar ainda mais o apetite de outras empresas.