AOS 200 ANOS DE IDADE, O BANCO do Brasil continua com o apetite de crescimento de um jovem. Maior banco do País, com ativos de R$ 416 bilhões, o BB está cada vez mais pressionado pelos concorrentes privados e não quer perder a liderança do mercado. Se concluir a compra da Nossa Caixa Nosso Banco, em negociação com o governo de José Serra, irá aumentar a distância dos postulantes ao topo do ranking do setor. E com uma vantagem que transcende os balanços contábeis: corrigirá uma deficiência histórica e fortalecerá a presença em São Paulo, Estado mais rico da federação, dominado por Bradesco, Itaú e Santander. O BB também almeja o Besc, o BRB e, quem sabe, o Banrisul. Mas a estratégia do presidente Antônio Francisco de Lima Neto não se limita à atividade bancária pura e simples. Ele também quer expandir a área de seguros.

Até agora, o BB tem atuado no mercado segurador por meio de parcerias com empresas privadas. A reestruturação desse negócio começou em julho passado, com a compra da participação da Aliança da Bahia na joint venture com o BB para vender apólices de vida e seguros gerais, a Aliança do Brasil. Por R$ 670 milhões, o BB adquiriu as ações do empresário Paulo Sérgio Tourinho e ficou com 100% da empresa, que tem 9,3 milhões de clientes e faturou R$ 1,46 bilhão em prêmios diretos no ano passado. O natural, segundo especialistas, seria o banco consolidar as áreas de seguros de vida e previdência numa única empresa, como fizeram seus concorrentes Bradesco e Itaú. ?É uma tendência internacional e poderia ser justificada facilmente pelo BB?, diz um executivo do setor que prefere o anonimato. No ramo de previdência, o BB tem como sócio, na Brasilprev, o grupo americano Principal Financial Group. Faria sentido se vendesse a parte recém-comprada na Aliança do Brasil para o Principal ? com lucro, naturalmente ? e ampliasse a parceria. O problema é que a compra da Nossa Caixa colocou um novo candidato de peso no páreo pela aliança com o BB: a Mapfre Seguros, maior seguradora da Espanha. É um doce dilema.

670 MILHÕES DE REAIS FOI O PREÇO DO CONTROLE DA ALIANÇA

Em São Paulo, a Mapfre é sócia da Nossa Caixa na venda de seguros de vida e planos de aposentadoria. Os espanhóis detêm 51% e a gestão da Nossa Caixa Mapfre Vida e Previdência, que tem exclusividade na venda de apólices na rede do banco paulista. O contrato, pelo qual a Mapfre pagou R$ 225 milhões em leilão em 2005, tem validade de 20 anos. O que acontecerá com essa sociedade se a Nossa Caixa for incorporada pelo BB? Se a Mapfre continuar como sócia, haverá conflito de interesses com o Principal em planos de previdência, mas não em seguros de vida. Haveria pelo menos duas opções na mesa de Lima Neto: dividir para reinar, mantendo o Principal na Brasilprev e vendendo o controle da Aliança do Brasil para a Mapfre (que, nesse caso, teria de abrir mão do ramo de previdência nas agências do BB), ou tirar os espanhóis de cena. Para isso, teria de ressarci- los na joint venture em São Paulo. Um detalhe: enquanto o contrato da Nossa Caixa com a Mapfre tem 17 anos pela frente, o do BB com o Principal está próximo do vencimento.

O BB, procurado por DINHEIRO, não se manifestou até o fechamento desta reportagem, na quarta-feira 10. O Principal também não comentou. O presidente da Nossa Caixa Mapfre Vida e Previdência, Marcos Eduardo Ferreira, demonstrou interesse em continuar no negócio se a Nossa Caixa for realmente vendida. ?É indiscutível ser muito atraente para a Mapfre a hipótese de ser parceira da maior instituição financeira do Brasil com operações em todo o território nacional?, afirmou, em nota. ?O histórico da Mapfre na América Latina tem privilegiado o crescimento das operações no Brasil?, concluiu. Como se vê, Lima Neto tem uma boa estratégia e os dois gigantes na mão. Ambos têm muito dinheiro para investir. Quando há disputa, o preço aumenta. O tempo dirá se ele saberá tirar bom proveito disso, em benefício dos acionistas do BB.