Ele não usa maquiagem, mas entende do negócio. Em menos de dois anos, o empresário catarinense Rogério Rubini conseguiu transformar uma pequena empresa que fabricava deo-colônias populares vendidas apenas no porta-a-porta em um dos maiores fenômenos do varejo. Ao introduzir uma linha de maquiagem com visual moderno e colorido ? e preços que cabem na mesada da garotada ? a Contém 1g conquistou as adolescentes de todas as classes. Mais de 200 lojas foram inauguradas em todo o País nos últimos 15 meses, dentro de um plano estratégico de ampliação dos canais de distribuição. O faturamento da empresa, criada em 1990, deu um salto: dobrou para R$ 100 milhões no ano passado. Para 2002, a expansão nacional continua na mesma velocidade. Mas é no mercado externo que a Contém 1g pretende espalhar seu ?glitter? (brilho labial). Dentro de dois ou três anos, a marca deverá estar presente em uma dezena de países. Cada um com uma média de cem unidades. ?Gosto de desafios?, afirma Rubini. No momento ele dedica-se a buscar master franqueados internacionais para garantir a expansão. ?Em três anos, metade de nossa receita virá do exterior?, acredita. Além dos royalties pelas franquias, Rubini prevê faturar com a exportação dos produtos, fabricados em São João da Boa Vista (SP).

Em alguns países, como a Espanha, os contatos já estão bem avançados. ?Em duas semanas devemos fechar o primeiro contrato?, adianta o português Rodrigo Coutinho, diretor comercial da consultoria espanhola Litexco, que faz a intermediação do negócio naquele país, além de Portugal, Bulgária, Romênia e Polônia. Coutinho é um entusiasta da marca: ?A empresa tem uma personalidade muito forte, um marketing de qualidade e sabe onde quer chegar?. O entusiasmo se repete nos Estados Unidos. ?Estamos acertando a papelada burocrática e em poucas semanas vamos formalizar outros acordos?, afirma o consultor William Le Sante, responsável pela negociação com master franqueados americanos e da América Latina. ?Quero abrir mil lojas em dez anos?, conta. ?O produto é barato para o consumidor final e acessível para os investidores. Com US$ 20 mil é possível abrir uma loja.? A capacidade da empresa de atender a esse ritmo de crescimento não preocupa Le Sante. ?Temos apenas que criar demanda?, diz. Para se garantir, já encontrou alternativas de produção nos Estados Unidos.

Inspiração. Rubini se inspirou dentro da própria casa na hora de investir no mercado de cosméticos para adolescentes. A filha, hoje com 19 anos, era uma grande consumidora de artigos de maquiagem, mas só encontrava os produtos adequados à sua idade no exterior. ?Não havia nada específico para ela no Brasil?, explica o empresário. Com um talento intuitivo para os negócios, ele não perdeu tempo. É com esse faro que Rubini pretende consolidar a rede internacionalmente. Cada passo será tomado com muita cautela. Afinal, não são poucos os casos de empresas que tentaram crescer rápido demais e fracassaram. É só lembrar do triste destino da grife italiana Benetton. Febre nos anos 80, invadiu mercados em todo o mundo mas acabou não sustentando projeto tão ambicioso. ?O grande desafio é conseguir se renovar sempre?, afirma o analista Alberto Serrentino. ?E, claro, dispor de uma estrutura operacional que suporte o crescimento.? Segundo ele, a Contém 1g ainda está muito longe do ponto de saturação de mercado. ?Como a empresa atua em um nicho que estava inexplorado, ainda tem muito espaço para crescer.? Para ele, a estratégia de disponibilizar os produtos em uma multiplicidade de canais (venda direta, internet, lojas próprias e franqueadas) antecipa uma tendência no setor de cosméticos, que movimentou R$ 1,9 bilhão no Brasil em 2001. ?A Natura abriu um quiosque experimental e em breve deverá partir para a diversificação de canais?, exemplifica Serrentino.