13/09/2013 - 5:30
O fuso horário e o local escolhido para o anúncio da cidade que abrigará os Jogos Olímpicos de 2020 não foram dos mais convenientes para os japoneses. Afinal, com a cerimônia ocorrendo do outro lado do mundo, em Buenos Aires, às 17h, eles se viram obrigados a acordar antes das 6h da manhã do domingo 8, para acompanhar o anúncio ao vivo. Quem topou o desafio não se arrependeu. Tóquio confirmou seu favoritismo e bateu a espanhola Madri e a turca Istambul, por reunir os elementos que os integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) buscavam: prosperidade econômica e segurança.
Situação oposta à vivida pelos turcos, cujo cenário político está conturbado em função da guerra civil na vizinha Síria, além de seus problemas políticos e sociais internos. Com as contas públicas em dia, uma infraestrutura impecável e capacidade de cumprir prazos, a milenar capital do Japão sempre foi vista como a mais provável escolha. Mesmo com os problemas relacionados ao vazamento de água radioativa na usina nuclear de Fukushima, afetada por um tsunami ocorrido após um terremoto em março de 2011. Dinheiro, não será problema. A prefeitura da maior cidade japonesa espera gastar US$ 8 bilhões, dos quais US$ 4,5 bilhões já estão depositados em um fundo. Também conta com um grande apoio popular.
Ao contrário dos espanhóis, 70% dos japoneses são favoráveis à realização dos jogos. ?Tóquio veio para dar a aspirina que os dirigentes do COI precisavam?, afirma Ricardo Setyon, professor do MBA em marketing e gestão esportiva da Trevisan Escola de Negócios. ?Eles querem evitar tensões, como as que poderiam ocorrer em outros países.? O custo relativamente baixo ? o orçamento da Rio 2016 é estimado em US$ 12,7 bilhões, enquanto em Londres 2012 foram gastos US$ 14,3 bilhões ? também pesou favoravelmente. Afinal, depois que Atenas 2004 foi apontada como a responsável por desencadear a crise econômica da Grécia, os dirigentes do COI passaram a considerar também essa variável em sua avaliação.
Madrugadores: japoneses tiveram que acordar cedo para ver Jacques
Rogge, presidente do COI, anunciar o resultado
Foi o que igualmente ajudou a derrubar as pretensões de Istambul, disposta a torrar US$ 20 bilhões para se tornar a primeira cidade em que predomina a religião muçulmana a abrigar os Jogos. ?O COI não iria aceitar, pois seus dirigentes não querem ver os Jogos acusados novamente de quebrar um país, como ocorreu na Grécia?, afirma Setyon. A falta de segurança política foi outra questão que pesou contra a cidade turca, já que o governo local enfrenta protesto pelo descontentamento da população com a condução da política. O baixo orçamento de Tóquio é fruto das virtudes da cidade e do legado deixado pelos Jogos de 1964.
Sem contar os inúmeros investimentos em infraestrutura feitos desde então. Por conta disso, é esperado que a Olimpíada de 2020 resulte em um lucro de US$ 30 bilhões, além de garantir a criação de 150 mil empregos. Para Luis Fernando Ferreira, diretor-geral da ESM, consultoria em marketing esportivo, a situação econômica do Japão também colaborou para sua escolha. ?O evento vai para onde está o dinheiro e onde os patrocinadores podem ganhar mais.? Em 2012, a economia japonesa cresceu 2%. No segundo trimestre avançou 0,9%, dando sinais de que a prolongada estagnação econômica pode ter ficado para trás. Com dinheiro em caixa e uma das maiores poupanças individuais do planeta, a alegria dos jogos pode turbinar ainda mais a economia do país. Uma equação na qual todos deverão ganhar.