Contemple as experiências passadas dos kamikazes financeiros. Em vários momentos eles implodiram a economia mundial. A partir de uma tradicional atividade: especulação. Foi assim em 1636, com a ?mania das tulipas?, como ficou conhecido o surto especulativo que assolou a Holanda e fez com que os bulbos dessas flores chegassem a valer mais do que 10 casas em Amsterdã. Ou no Japão da década de 80, que teve sua economia inflada pelo ?boom? do mercado imobiliário e pela febre consumista da população. Anos depois, a bolha japonesa estourava e os lucros vultosos da Bolsa de Tóquio, que enchiam os bolsos dos investidores estrangeiros, viraram pó.

Em todas essas experiências o resultado é o mesmo: fracasso. Daí a sina de kamikazes, os pilotos japoneses que na 2ª Guerra Mundial arremessavam seus aviões contra as bases inimigas. Ao ouvir as palavras de ordem Tora, Tora, Tora (que significa tigre em japonês), na voz enfurecida do capitão Fuchida Mitsuo, eles mergulhavam para a morte. A aventura suicida da especulação financeira é contada capítulo a capítulo no livro Salve-se quem puder ? Uma história da especulação financeira. O autor, Edward Chancellor, ex-estrategista do banco Lazard Brothers e atual colaborador de publicações como a revista The Economist, narra, em detalhes saborosos, a trajetória de nove grandes bolhas especulativas que estouraram no mundo a partir do século 17. Não só narra, como também traça paralelos entre algumas delas. Chancellor compara o entusiasmo dos britânicos pela desconhecida América do Sul, em 1826, com a euforia dos investidores pelos mercados emergentes, que acabaram entrando em colapso em 1998. Segundo ele, nos dois casos, como aliás em todos os outros descritos no livro, o erro foi o mesmo: as pessoas acreditaram que daquela vez realmente o mundo havia mudado e a economia funcionava sobre bases sólidas e definitivas. O momento não poderia ser melhor (ou pior) para ler um livro como este.