O mercado de torres de telecomunicações na América Latina e, em especial, no Brasil, se tornou um dos principais motores de investimento da indústria de telefonia, impulsionado pela necessidade urgente de densificação de redes 5G e pela emergente demanda por infraestrutura de Inteligência Artificial (IA) próxima ao consumidor.

A alta demanda por novas torres é fundamental para superar o déficit de cobertura e habilitar as próximas gerações de serviços digitais. Apesar dos avanços, a penetração do 5G na América Latina ainda é baixa, e há muito trabalho pela frente para melhorar a cobertura. A necessidade de expansão é imensa: somente o Brasil precisa de 300 mil antenas 4G adicionais e 700 mil nós 5G para alcançar a cobertura em todo o território nacional.

A intensa demanda tem acelerado o fechamento de grandes acordos para a expansão da infraestrutura. O mais recente foi o anúncio do contrato firmado pela TIM com a IHS Towers, uma das gigantes do setor, para a construção de 3 mil novas torres no país.

Relatório da Mordor Intelligence aponta que o mercado de torres na América Latina, previsto em US$ 3,55 bilhões em 2025, deverá alcançar US$ 4,32 bilhões em 2030, a uma taxa de crescimento anual de 4%. Já o volume de torres instaladas sairá das atuais 240 mil para 272 mil na mesma base de comparação, uma alta anual de 2,5%.

Motor de expansão

Grandes empresas globais estão presentes na região, entre elas American Tower, Phoenix Tower, SBA Communications e a própria IHS Towers. O Brasil, que responde por 35% da infraestrutura da região, será o motor de expansão do mercado, atraindo interesse ainda maior das companhias.

Mesmo com o 5G já alcançando mais de 60% da população brasileira, as próximas fases de expansão — que visam municípios com 100 mil habitantes e corredores rodoviários importantes até 2027 — exigirão uma onda maciça de nova infraestrutura.

O crescimento do mercado de torres será significativamente impulsionado pelo 5G, mas também pela Inteligência Artificial. Embora a IA “profunda” (Deep AI) seja processada em data centers maiores e distantes, o uso de IA convencional será mais eficiente e barato se feito nas torres, pois elas estão mais próximas dos consumidores.

Embora se considere que a demanda por serviços de telefonia via satélite, como a Starlink, ocupará cada vez mais espaço em áreas de baixíssima cobertura, como a região amazônica, a tecnologia atual é pouco eficiente para funcionar em grandes cidades pela estrutura de concreto dos edifícios, um obstáculo à propagação de seu sinal. Além disso, não suporta a capacidade de processamento necessária para a demanda crescente de IA. A fibra óptica, por sua vez, tem alto custo e complexidade de implementação.

Já as torres estão evoluindo para se tornarem “micro-edge data centers”, unidades compactas instaladas nas bases das torres, projetadas para processar informações perto do consumidor final, o que não só reduz custos, mas também diminui a latência e democratiza o acesso aos serviços de IA e computação em nuvem.

Com a necessidade de grandes investimentos para novas tecnologias e as taxas de juros elevadas, as operadoras de telefonia móvel não estão se concentrando na construção de novas torres. Isso consolidou o modelo de infraestrutura neutra e compartilhada, que faz sentido economicamente para as operadoras e também em termos de sustentabilidade.

Projetos complexos

Sediada em Londres, a IHS Towers, uma das principais “TowerCos” (construtoras de torres) independentes, despontou como a maior do segmento no Brasil nessa modalidade. A companhia possui 9 mil antenas instaladas na América Latina, a maior parte em terras brasileiras. Com o acordo da TIM, a empresa aumentará 30% sua capacidade instalada.

A IHS é responsável por projetos complexos, como a construção da única torre na Ilha de Combu (Pará) para a COP-30, e a instalação do maior Sistema de Antenas Distribuídas (DAS) 5G da América Latina na Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo.

“Cada torre que construímos é uma declaração de confiança no crescimento do Brasil e na promessa de inclusão digital”, declarou o chairman e CEO da IHS, Sam Darwish, na ocasião do contrato firmado com a TIM.

No cenário mais amplo da infraestrutura de telecomunicações da América Latina, o setor passa por um período de estabilidade e crescimento moderado. De acordo com a Americas Market Intelligence, o volume de investimento em redes sem fio tem projeção de crescimento de US$ 1,4 bilhão a US$ 1,5 bilhão por ano entre 2025 e 2029.

Paralelamente, o mercado RAN (Rede de Acesso de Rádio) — que inclui os equipamentos instalados nas torres — está calculado em cerca de US$ 4,3 bilhões anuais entre 2025 e 2028, com expectativa de atingir US$ 4,6 bilhões em 2029.