Já fazem muitos anos que a Toyota vem sendo a montadora mais lucrativa do mundo. No último exercício, por exemplo, com ganhos superiores a US$ 10,3 bilhões, a empresa conseguiu superar os resultados somados das rivais GM, Ford, DaimlerChrysler e Volkswagen. A empresa alcançou ganhos tão formidáveis porque, ao contrário de outras companhias japonesas, sempre seguiu à risca a filosofia de que um lucro generoso é mais importante do que uma farta participação de mercado. Mas hoje a Toyota, com valor de mercado em bolsa superior a US$ 110 bilhões, quer não apenas ser a melhor empresa para os acionistas como também a maior. Depois de vender 7,5 milhões de veículos no ano passado, o que representou 10% das vendas globais de automóveis, e superar a Ford como a segunda maior montadora do mundo, a empresa traçou um plano para atingir 15% do mercado mundial até 2010. Internamente, o plano foi batizado como Global 15. ?Nas condições de hoje, ter 15% do mercado mundial significaria ser a maior empresa do mundo?, disse Hiroyuki Okabe, presidente da Toyota Mercosul à DINHEIRO. ?Isso significa que temos que crescer muito em várias regiões, especialmente no Mercosul e em outros mercados emergentes?.

Um passo inicial dessa estratégia foi concretizado dias atrás, na cidade de Pilar, na Argentina, onde a Toyota apresentou a nova versão da picape Hilux. O modelo foi totalmente remodelado e simboliza as ambições grandiosas da Toyota. No ano passado, a montadora vendeu 6,7 mil picapes no Brasil. Com a nova Hilux, a projeção de vendas da empresa saltou para nada menos que 16 mil unidades (quase 200% a mais), o que significaria tomar a liderança do mercado brasileiro, ultrapassando GM, Mitsubishi, Ford e Nissan. ?Estamos convictos de que, com o novo produto, isso é perfeitamente possível?, aposta Luiz Carlos Andrade Júnior, vice-presidente da Toyota Mercosul. Produzida em Zárate, na Argentina, a nova Hilux recebeu investimentos de US$ 200 milhões e faz parte de um projeto estratégico da Toyota batizado como IMV (Innovative International Multi-Purpose Vehicle). Em quatro plantas globais, na Argentina, na Indonésia, na Tailândia e na África do Sul, serão produzidos modelos que serão exportados para o mundo todo, dos quais a Toyota prevê vender 500 mil unidades por ano ? além da nova Hilux, um dos destaques é o Fortuner, um sport-utility de altíssimo luxo.

Nos países desenvolvidos, a montadora japonesa já está perto da meta traçada no Global 15. Nos Estados Unidos, por exemplo, a empresa saltou de uma participação de mercado de 6,4% para 12,2% desde 1986. Isso porque, além da percepção de qualidade dos carros japoneses, a Toyota investiu muito em modelos pesados, adaptados ao padrão de consumo norte-americano. Além disso, graças à prática do Kaizen nas fábricas, uma técnica de melhoramento contínuo dos processos e de estoques mínimos, a empresa conseguiu ser mais produtiva do que as rivais e, assim, oferecer modelos mais baratos. Hoje, o grande desafio é expandir as vendas em mercados emergentes. No Brasil, a empresa tem hoje um sedan entre os mais vendidos do mercado, o Corolla produzido em Indaiatuba (SP), mas lhe falta um modelo para concorrer no segmento dos carros compactos. ?Estamos estudando a possibilidade de trazer um modelo para competir no nicho do Honda Fit?, revelou Luiz Carlos Andrade Júnior. Todas as apostas do mercado apontam para o Yaris, um carro já vendido no Japão e na Europa com grande sucesso. Os japoneses apostam que alavancar as vendas no Brasil é apenas questão de tempo. Até porque quem conseguiu furar o bloqueio das três gigantes americanas (GM, Ford e Chrysler) dentro dos Estados Unidos é mesmo capaz de grandes proezas.

US$ 10,3 bilhões foi o lucro da Toyota no último exercício fiscal

Estados Unidos Com carros adaptados ao padrão de consumo local, participação de mercado dobrou em menos de 20 anos