Após a pandemia de Covid-19, diversas empresas adotaram modelos remotos ou híbridos de trabalho, onde funcionários conquistaram a possibilidade de trabalhar de casa. 

O que parecia ser uma notícias boa para os profissionais começou a se tornar um problema, já que muitas vezes não estar presente no escritório significava que esse trabalhador tinha que responder às demandas do trabalho a qualquer momento do seu dia, via e-mail, telefone ou aplicativo de mensagem. 

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Por conta disso, aumentou na justiça os pedidos de desconexão do trabalho. Foram 2.666 novas ações sobre o tema somente em 2022, onde os funcionários estão exigindo que não sejam demandados pelos seus superiores após o horário de seu trabalho em contrato. 

“Exigir que o empregado esteja em permanente disponibilidade, após o expediente ou aos finais de semana, pode ocasionar danos à saúde mental e emocional do trabalhador que não estará efetivamente descansando e sim em permanente vigilância aguardando a qualquer momento ser incomodado pelo chefe”, aponta Fabiana Trovó, do escritório Morad Advocacia Empresarial. 

Movimento nasceu na Europa 

Apesar de ter ganhado força no Brasil somente após o período de pandemia, o home office já era uma realidade em alguns países da Europa como Bélgica e Portugal. Foi de lá que nasceu a necessidade da total desconexão do trabalhador das demandas do trabalho, não só remoto.

A neurocientista e gestora de carreiras Andrea Deis conta que esse movimento vem desde 2010 e não surge da justiça, mas da piora da saúde mental dos trabalhadores nesses países europeus que não conseguiam se desconectar totalmente do trabalho.   

“Alguns países perceberam que as pessoas adoecidas acabavam entregando muito menos por conta dessa piora da saúde mental. Esse direito veio como um pedido para facilitar a relação entre o trabalhador e o empresário”, explicou. Ela reforçou que no período da pandemia, por conta do lockdown que obrigou muitos cidadãos a ficarem em casa, esse movimento ganhou ainda mais força por parte das empresas. 

Deis também reforçou que é necessária uma mudança de modelo organizacional dentro das empresas, pois hoje o trabalhador é constituído de novas necessidades e valores e que não quer ser mais bombardeado por demandas via e-mail ou WhatsApp fora do horário de trabalho.  

Prints servem como provas para a justiça 

Com o crescimento do trabalho remoto, em que muitas vezes o WhatsApp é utilizado pelo trabalhador tanto para se comunicar com os amigos quanto para resolver assuntos profissionais, é possível usar prints de aplicativos de mensagens ou até mesmo da tela do celular para provar que ele estava sendo assediado fora do horário de trabalho em um processo judicial. 

“Nesta situação, de exigência de trabalho fora do expediente, o empregado precisa se atentar em, ao produzir a prova, ou seja, ao listar ligações, ‘printar’ telas, exportar conversas e juntar e-mails ao processo, observar o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais para que não se exponha informações desnecessárias tanto de eventuais clientes da empresa como de outros funcionários”, encerrou Fabiana.