Um grupo de executivos está diante de um lago com uma missão: todos têm de atravessá-lo em segurança. Podem escolher entre caiaques, botes e tubos de PVC que se transformam numa jangada improvisada. O problema é que, para usar cada uma dessas embarcações, terão de pagar. Há quatro grupos, cada um com seu próprio orçamento. O objetivo é cumprir a meta
com o menor desembolso possível. Para realizar a prova, eis o
segredo da atividade, as equipes precisam se unir. Parece um reality show ? mas é, na verdade, um exercício de outdoor training ou ecotreinamento. São atividades ao ar livre voltadas para capacitação profissional. Esse tipo de técnica, aliado a esportes de ação, tem
sido cada vez mais usada no Brasil. Tornou-se um estilo de vida corporativo. A intenção é corrigir os problemas nos escritórios e alcançar as metas estabelecidas.

Há competências fundamentais que fazem toda a diferença quando se está de terno e gravata ? e no meio do mato, de bermuda e tênis, elas ganham feição mais nítida. Em ritmo de aventura, desenvolve-se a capacidade de trabalho em equipe, a liderança, o planejamento e a comunicação. São, a rigor, conceitos relacionados a comportamento. Os profissionais, hoje, são valorizados pela atitude. Nos treinamentos em campo, depois de cada atividade, o grupo discute o que aprendeu e transforma a experiência em ações práticas para o dia-a-dia. ?O esporte é bom porque o funcionário, quando está fora do seu ambiente tem reações naturais?, diz Thomaz Brandolin, proprietário da Avanti Outdoor Training.

Os esportes radicais estão em voga porque chegam ao limite. Algumas empresas nasceram oferecendo apenas ação aos esportistas e logo se voltaram aos engravatados. É o caso da Adventure Camp, de São Paulo, que criou um braço corporativo. Iatismo, rafting, pára-quedismo e arvorismo (travessia de uma árvore a outra por meio de cabos de aço) são as atividades mais procuradas. As modalidades desenvolvem habilidades específicas. Há esportes para a superação pessoal, como o rapel. Outros são ideais para desenvolver a capacidade de enfrentar riscos, como o pára-quedismo, oferecido pela escola Azul do Vento, de Campinas. O iatismo é adequado para formação de times porque exige integração perfeita da tripulação. A BL3, que faz a atividade em Ilhabela, litoral paulista, já trabalhou com corporações como Natura, Metal Leve e Microsoft. É o mais caro dos treinamentos: custa R$ 750 por participante (sem teoria). O curso de pára-quedismo custa R$ 600 e a descida de corredeira no rafting custa R$ 90 por pessoa. Um treinamento completo custa cerca de R$ 7 mil por grupo.

Não se trata de diversão. ?O trabalho busca resultados reais?, diz
a consultora Tereza Mello, da Nature, de Minas Gerais, contratada pela transportadora Águia Branca Cargas para o ecotreinamento
dos vendedores. A empresa tem um problema específico: o faturamento aumentou 40% nos últimos dois anos, mas o lucro está diminuindo. Ao longo da travessia de um lago, os executivos associaram as dificuldades da aventura aos problemas cotidianos da companhia. Na toada de Indiana Jones, os funcionários da Águia Branca viraram crianças.