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Requinte e sofisticação: as luzes do restaurante Les Ambassadeurs (à esq.); a vista deslumbrante para a Torre Eiffel a partir do terraço da suíte Bernstein (no topo); e o restaurante Le Jardin, que abre suas portas durante o verão


História parisiense: o Hôtel de Crillon fica de frente para a Place de la Concorde, o palco da decaptação de Maria Antonieta durante a Revolução Francesa

O movimento é sincroni-zado com precisão britânica, mas o cenário é Paris. Às 9 horas da noite, nem um minuto a mais, nem um a menos, o restaurante Les Ambassadeurs, no Hôtel de Crillon, é palco de um momento mágico para os poucos comensais sentados às mesas. No suntuoso salão com paredes de mármore e lustres de cristal, pouco a pouco, as luzes começam a enfraquecer, baixando o tom de iluminação até a penumbra – atmosfera quebrada apenas pelas chamas das velas. No mesmo instante, as luzes da Place de la Concorde, em frente ao hotel, começam a ficar mais fortes, numa sincronização que torna a experiência gastronômica mera coadjuvante. São detalhes como esse que fizeram do Crillon um dos endereços mais glamourosos no mundo da hotelaria, parte do seletíssimo grupo de hotéis-palácio – são apenas sete em Paris. Agora, por incrível que pareça, ele está à venda. Na semana passada, o jornal londrino The Times revelou que o grupo americano Starwood Capital, dono da propriedade, pôs o prédio à venda por uma quantia que pode chegar a mais de 300 milhões de euros.

A notícia causou espanto. Por sua importância e pela carga histórica que carrega, o Hôtel de Crillon traz prestígio ao grupo americano. Por que, então, colocá-lo à venda? Procurado por DINHEIRO, o Starwood Capital disse por meio de sua assessoria que não comentaria o assunto, descrevendo a situação como “delicada”. Mas sabe-se que a empresa já entrou em contato com a consultoria imobiliária americana Eastdil Secured para encontrar compradores. A venda acontece em um momento de expectativa por parte da indústria hoteleira da França, que viu seus números se manterem positivos mesmo depois do vendaval financeiro do ano passado. Dados da consultoria francesa MKG

Hospitality mostram que o país apresentou o melhor resultado na Europa, com aumento no valor médio das diárias e no faturamento por quarto. A taxa de ocupação, no entanto, revelou queda de 1,3% em comparação com 2007; nos hotéis de alto padrão, como é o caso do Crillon, a queda foi de 2,1%. “Hotéis de alto nível são mais sensíveis às oscilações econômicas, pois estão ligados a uma clientela internacional”, afirma Vanguelis Panayotis, diretor de desenvolvimento da MKG Hospitality. “Os impactos da crise ainda estão por vir, mas a oportunidade de adquirir uma propriedade como o Crillon é algo que muitos investidores não vão querer perder”, aposta.

Construído em 1758 a pedido do rei Luís XV, o Hôtel de Crillon é parte importante da história de Paris. Cada tijolo do imponente palácio não só presenciou os gritos Liberté, Égalité e Fraternité durante a Revolução Francesa como assistiu de camarote o cumprimento da sentença de morte imposta à Maria Antonieta (1755-1793), guilhotinada na Place de la Concorde junto com outros nobres durante o período. Transformado em hotel há 100 anos, o edifício já foi o refúgio de personalidades como Winston Churchill (1874-1965), Elizabeth Taylor e Jacqueline Kennedy (1929-1994). Toda essa aura de história e glamour transformou o Hôtel de Crillon em um símbolo de Paris – o que só aumentou a polêmica ao redor da venda da propriedade. “Como o Crillon é um edifício emblemático, é normal que gere curiosidade”, diz Fábio Rossi, diretor da Sotheby’s International Realty no Brasil. Foi assim quando o The Plaza, em Nova York, foi vendido ao grupo israelense Elad Properties, em abril de 2005, por US$ 675 milhões. Na época, muitos protestaram dizendo que se tratava de uma heresia. Ele permaneceu fechado durante três anos sob uma reforma que consumiu US$ 400 milhões e foi reaberto em março de 2008. No fim, o antigo espaço de 805 suítes foi reduzido para 282 suítes de hóspedes e mais 182 apartamentos residenciais de luxo, que vão de um estúdio até coberturas tríplex com preços que variam de US$ 2,5 milhões a US$ 40 milhões. A tacada imobiliária mostrou-se lucrativa. Quem se arriscará com o Crillon?