05/09/2014 - 20:00
É quase impossível falar da suíça Vacheron Constantin, a relojoaria mais antiga do mundo em atividade, sem lembrar de história. Fundada em 1755, a empresa ultrapassou turbulências como a Revolução Francesa e as duas guerras mundiais, que não foram capazes de interromper a produção de seus renomados relógios, os quais chegam a custar até € 2 milhões e têm a fama de durar para sempre. Quase 250 anos depois, a marca de Genebra começa a escrever o capítulo brasileiro de sua história. Ela vai inaugurar sua primeira loja no País, localizada no luxuoso Shopping Cidade Jardim, na zona sul de São Paulo.
“A quantidade de brasileiros que compram nossos relógios nas lojas de Paris e de Genebra é impressionante”, diz o espanhol Juan-Carlos Torres, CEO mundial da Vacheron Constantin. “Tínhamos de estar aqui.” Além dos relógios, a marca é conhecida no mundo inteiro por patrocinar eventos culturais, em especial os relacionados ao teatro, à dança, à fotografia e ao design. Em maio deste ano, por exemplo, a relojoaria marcou presença na apresentação da Escola de Dança da Ópera Nacional de Paris. Dois meses depois, patrocinou a Orquestra da Suíça Romanda, a mais tradicional do país alpino, em evento realizado em Tóquio.
Para conquistar o mercado brasileiro, no entanto, a empresa desenhou uma estratégia diferente. Por aqui, as ações sociais devem ganhar mais destaque, em especial as promovidas por artistas e celebridades. Desde 2011, a empresa é parceira do Instituto Criar, ONG fundada pelo apresentador de televisão Luciano Huck, que contribui para a formação educacional de jovens de baixa renda. Segundo Valeska Nakad, consultora de negócios de luxo da Faculdade Belas Artes, a opção faz sentido, já que a Vacheron não tem uma marca tão forte no País como a Rolex e a Hublot, por exemplo.
“Para uma empresa menos conhecida aqui como a Vacheron, foi uma boa ideia se associar a um artista famoso”, diz. “Na verdade, o reconhecimento da marca no Brasil não corresponde ao seu peso lá fora.” Segundo a consultora, a vinda da empresa ao País está relativamente atrasada, em relação ao boom recente da economia. Concorrentes como Montblanc, Rolex e Jaeger-LeCoultre estão aqui há mais tempo e puderam surfar no surto de prosperidade que preponderou até hoje. “Essas empresas voltaram seus olhos para cá no auge da crise europeia, há muito mais tempo”, diz Valeska.
“Agora, a Vacheron vai ter de correr atrás do tempo perdido.” Proust puro. Para driblar a concorrência acirrada no mercado de luxo brasileiro, a Vacheron aposta na longevidade de seus produtos. O CEO Torres garante que qualquer relógio da marca tem potencial para estar funcionando – não importa quão antigo seja. “São relógios feitos para durar para sempre”, diz Torres. “Já consertamos peças datadas de 1850.” De acordo com o executivo, os valores dos relógios podem variar entre € 20 mil e € 2 milhões. Os mais caros são peças customizadas, que podem ser confeccionadas com materiais como diamante ou platina – tudo depende da vontade do cliente.
Segundo a consultoria suíça BV4, especializada no setor relojoeiro, a Vacheron tem um valor de mercado de US$ 583 milhões. A empresa é controlada pelo Grupo Richemont, fundado pelo bilionário sul-africano Johann Rupert e do qual fazem parte empresas como Piaget, Cartier e Montblanc, famosa também por suas canetas de luxo. “Até o fim do ano, vamos dobrar a capacidade de produção de nossas fábricas”, diz Torres. O investimento é justificado pelas duas novas butiques da marca abertas neste ano: a do Brasil e a da Rússia, em Moscou, inaugurada em julho. “A Vacheron deve crescer alavancada por novos mercados em expansão”, afirma.