02/08/2018 - 12:51
A indústria mostrou em junho que mantém a trajetória de recuperação gradual da produção, avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O avanço de 13,1% na produção em junho ante maio sucedeu a uma queda de 11,0% registrada no mês anterior sob a influência da greve de caminhoneiros. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo IBGE.
“Temos a maior parte dos segmentos industriais avançando, todas as categorias de uso com crescimento, e não por acaso o total da indústria aumentando 13,1%, maior avanço da série histórica”, apontou Macedo. “A alta de junho não só recupera a queda de maio como deixa a indústria em patamar superior ao de abril”, completou.
Na passagem de maio para junho, 15 das 22 atividades pesquisadas superaram o patamar de produção de abril. Entre as categorias de uso, apenas os bens de consumo duráveis não conseguiram em junho superar o nível de produção de antes da greve, apesar do crescimento acentuado de junho. Entretanto, o pesquisador alerta que o resultado positivo precisa ser visto com alguma cautela, diante do cenário de incerteza na economia do País nos próximos meses.
“O resultado de dois dígitos pode dar uma impressão de ser melhor do que está. Ainda não recupera todas as perdas do passado. O patamar de produção ainda está ligeiramente abaixo do que estava em dezembro de 2017. A alta de dois dígitos e disseminada entre as atividades pesquisadas não pode ser confundida com trajetória consolidada da produção industrial”, alertou Macedo.
Os níveis de confiança de consumidores e empresários ainda baixos e o cenário de incertezas elevadas, por conta também de indefinições que cercam a corrida eleitoral, trazem ressalvas e se faz necessário aguardar as próximas leituras da pesquisa para avaliar melhor a saúde do setor industrial, opinou Macedo.
“Claro que a situação já foi pior, mas tem um caminho importante a ser percorrido para que recupere as perdas do passado. Os níveis de confiança de consumidores e de empresários estão aquém do que já foram no passado. Recuperaram alguma perda, há estímulo maior de investir e de consumir do que num passado recente, mas já esteve muito à frente”, contou o pesquisador.
O gerente do IBGE ressalta que não é possível dissociar a produção industrial da demanda doméstica. A indústria tem sido beneficiada pelo avanço das exportações, mas também necessita que o mercado de trabalho caminhe favoravelmente, com menos desempregados no País.
“Existe melhora, mas ainda está abaixo do patamar registrado no final do ano passado. É como se, passados seis meses, a produção ainda estivesse ali no mesmo patamar do fim de 2017”, concluiu.
Copa do Mundo
A Copa do Mundo de Futebol, realizada na Rússia, pode ter reduzido a magnitude de crescimento da produção industrial do País no mês de junho em relação ao mesmo período de 2017, avaliou Macedo. A indústria teve expansão de 3,5% em junho ante igual período do ano anterior, com avanços em 15 das 26 atividades investigadas.
“Não tem como mensurar o efeito Copa, mas, em dia de jogos do Brasil, tem redução de jornada ou de dias de trabalho naquelas indústrias que não atuam de forma continuada. Para esse tipo de comparação em relação ao mesmo mês do ano anterior, a Copa pode ter contribuído negativamente para o resultado”, opinou Macedo.
O segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias teve expansão de 26,7%, enquanto o de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis registrou elevação de 11,4%, as duas maiores influências positivas na formação da média da indústria no mês.
Outras contribuições positivas relevantes foram de bebidas (13,6%), celulose, papel e produtos de papel (7,0%), indústrias extrativas (1,6%), metalurgia (3,3%) e produtos de minerais não metálicos (4,8%).
Na direção oposta, a principal influência negativa foi de produtos alimentícios (-2,8%), embora também tenham registrado perdas significativas os setores de outros equipamentos de transporte (-14,4%), produtos têxteis (-8,0%), produtos diversos (-10,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,1%) e outros produtos químicos (-1,9%).