15/08/2007 - 7:00
Todos os números da Tramontina, uma das maiores corporações do Sul do País, são grandiosos. De suas dez fábricas espalhadas pelo Sul e pelo Nordeste, onde trabalham 7,6 mil funcionários, saem diariamente 100 milhões de unidades, de 17 mil produtos diferentes. Talheres, com 1,5 milhão de unidades e panelas (120 mil) são os campeões de venda. O mais impressionante: a cada dia a Tramontina lança um novo produto no mercado. A pequena oficina de ferramentas fundada pelo descendente de italianos Valentim Tramontina transformouse em 96 anos numa corporação de R$ 2 bilhões. Mas nem mesmo seu gigantismo evita os transtornos causados pelo grande fenômeno da economia mundial nos últimos anos: a invasão dos produtos chineses.
O dólar desvalorizado traz mais preocupação ainda. A fabricação de talheres, responsável por 35% do faturamento do grupo e 50% da produção, é direcionada para a exportação. Com a concorrência dos produtos asiáticos, sobretudo nas linhas de faqueiros de alto padrão, a saída encontrada por Tramontina foi investir no mercado interno, sobretudo nos produtos mais baratos, voltados para as classes C e D. Se um faqueiro sofisticado da marca sai por R$ 2 mil, um chinês similar pode ser encontrado por R$ 500.
Mas a empresa não culpa os chineses pela diferença gritante. ?O grande problema é a matriz tributária desse país?, critica Clóvis Tramontina, neto de seu Valentim e presidente do grupo. ?A grande questão é que, quando o câmbio cai a R$ 1,80, essas matrizes ficam mais visíveis e a gente sente mais.? A saída encontrada para manter a rentabilidade foi a diversificação e a oferta de produtos para as classes populares. Antes, porém, executivos visitaram a China para conhecer de perto os adversários. Graças a esse trabalho, a diferença de preços entre os produtos da Tramontina e os dos chineses caiu de 85% para 40%. Isso possibilitou, por exemplo, que a empresa recentemente lançasse um conjunto de panelas de cinco peças a R$ 199, a ser vendido no varejo em dez parcelas de R$ 19,90. O financiamento é bancado pela própria Tramontina. ?O conjunto foi lançado em 1º de julho e já foram vendidas 435 mil unidades?, conta o empresário. O objetivo inicial era vender 360 mil conjuntos. ?Perdemos em rentabilidade, mas ganhamos em produtividade?, avalia Clóvis.
A avalanche de lançamentos tem sido a principal arma da Tramontina para enfrentar a concorrência asiática. Os importadores de produtos chineses dificilmente trazem novidades no mesmo ritmo. Com base nessa estratégia, a empresa criou a unidade Tramontina Teec, que há dez anos fabrica pias de aço inoxidável em Carlos Barbosa (RS), sede da companhia. Agora, ela inicia ali a produção de fogões de mesa, chamado cooktops, e de vitro-grills, chapas de vitrocerâmica portáteis que podem ser usadas tanto como fogão como grelha. A novidade ainda é importada da Itália, mas Riccardo Bianchi, diretor da unidade, garante que, se o mercado responder bem, eles investirão para nacionalizar a produção. ?Queremos até o final de 2007 ser o maior fabricante de cooktops do País?, prevê ele. A Tramontina Teec foi um dos braços que mais cresceram nos últimos anos em todo o grupo. Entre o primeiro semestre de 2006 e de 2007, acumulou 40% de expansão. ?Em 2008 pretendemos lançar uma linha de coifas e fornos?, planeja Bianchi.
Clóvis Tramontina assistiu à transformação do negócio familiar em uma das mais importantes empresas brasileiras. Segundo ele, poucos de seus planos não se transformaram em realidade. Uma das atuais manias do mercado, a abertura de capital, não está em seu rol de prioridades. ?Dá muita dor de cabeça?, confessa. No entanto, não é por isso que deixa de ser ambicioso. ?Meu sonho é ver a Tramontina entre as dez marcas mais importantes do País?, diz ele.