Na era das startups, fintechs e big techs, em meio à transformação digital, surgem iniciativas voltadas para a redução da desigualdade social e o equilíbrio econômico que geram frutos interessantes. Foi com essa motivação que os amigos Tiago Ribeiro e Jorge Júnior, em Brasília, começaram a idealizar um projeto ainda na faculdade.

Inicialmente, o objetivo era criar um clube de benefícios, mas a ambição sempre foi desenvolver algo que tivesse impacto real para pessoas em situação de vulnerabilidade. Assim, em 2019, nasceu a Trampay, a primeira fintech brasileira voltada ao mercado de trabalho informal, abrangendo motoristas de aplicativos e entregadores. “Fizemos muitas pesquisas exploratórias com o público e, ao conversar com entregadores, identificamos sua principal dificuldade: a questão financeira”, explica Tiago Ribeiro, CPO e cofundador da startup.

O ambiente digital gerou inúmeras oportunidades com o crescimento da gig economy, modelo impulsionado por plataformas digitais que oferece trabalhos temporários e pontuais. De acordo com o IBGE, em 2022, aproximadamente 1,5 milhão de brasileiros trabalhavam por meio de aplicativos, representando 1,7% da população ocupada.

Esses trabalhadores de plataformas digitais, ou gig workers, encontram um mercado em expansão, mas ainda enfrentam grandes desafios, especialmente no relacionamento com instituições financeiras e na gestão de seus rendimentos.

A Trampay oferece uma solução relevante: o adiantamento de recebíveis, permitindo que esses profissionais acessem seus ganhos diários de forma antecipada, com taxas de empréstimo mais baixas que as praticadas no mercado. Esse recurso contribui para aliviar a instabilidade financeira, proporcionando uma rotina mais previsível e segura.

Para o CEO Jorge Júnior, informais não conseguem crédito devido à falta de histórico financeiro (Crédito:Divulgação)

Segundo o CEO Jorge Júnior, trabalhadores informais enfrentam dificuldade para obter crédito devido à falta de histórico financeiro formal. Em média, os pedidos de crédito na plataforma giram em torno de R$ 150, e 70% desses empréstimos são usados para cobrir necessidades básicas, como combustível, alimentação e contas em atraso. Notavelmente, a fintech mantém um índice zero de inadimplência. “Nosso principal produto é a antecipação de recebíveis, um crédito controlado que permite ao trabalhador seguir em atividade”, explica Jorge.

Com mais de 20 mil downloads e 2,4 milhões de transações, a plataforma movimentou mais de R$ 1 bilhão em GMV (volume bruto de mercadorias) nos últimos dois anos, com R$ 110 milhões em empréstimos concedidos.

Ribeiro ressalta que um dos maiores desafios trabalhistas no Brasil é a situação dos profissionais que se encontram em um “limbo” – sem uma regulamentação que os proteja adequadamente. Esses trabalhadores, muitas vezes, não se encaixam totalmente nas leis vigentes, enquanto as plataformas operam em um espaço regulatório indefinido.

“Qualquer solução para enfrentar essa realidade será benéfica, tanto para os trabalhadores quanto para as empresas e plataformas envolvidas”, comenta Ribeiro. “O grande desafio é alinhar todas essas questões ao contexto trabalhista atual e acompanhar a evolução da regulamentação.”

Tiago Ribeiro, CPO e cofundador, diz que dificuldade financeira de entregadores motivou a startup (Crédito:Divulgação)

PARCERIAS

Para o CEO, o foco é melhorar a qualidade de vida dos usuários finais por meio de novos produtos e parcerias estratégicas. “Hoje, já colaboramos com algumas grandes plataformas, mas buscamos expandir de forma justa e alinhada ao trabalho desenvolvido por essas plataformas”, afirma Jorge. Ele ainda destaca a importância de entender o mercado brasileiro, o terceiro em crescimento na gig economy, atrás apenas de Índia e Estados Unidos.

No futuro, a Trampay pretende expandir suas operações por toda a América Latina, uma região com características similares ao mercado brasileiro. Em diversos países, os trabalhadores também buscam alternativas para melhorar suas condições de vida, enfrentando dificuldades com os sistemas bancários tradicionais.