Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Petrobras e o grupo de transição do governo federal deverão se reunir novamente na terça-feira para discutir sobre política de desinvestimento e o novo plano estratégico da petroleira 2023-2027, após ter tratado na manhã desta segunda-feira de tributação, comercialização e abastecimento de combustíveis, disseram integrantes do grupo.

A Reuters publicou mais cedo, com base em fontes com conhecimento do tema, que houve uma apresentação sobre questões relacionadas aos preços de combustíveis, mas sem detalhar a fórmula da companhia.

O principal objetivo da equipe de transição é buscar uma fotografia do que está acontecendo atualmente com a petroleira e levantar pontos de atenção sobre possíveis urgências, inclusive sobre temas que eventualmente conflitem com visões do governo eleito, explicou à Reuters a integrante da equipe Magda Chambriard.

“O bacana é dizer que esse grupo enxerga uma Petrobras essencial para o Brasil e que, portanto, precisa ser uma empresa forte e respeitada”, destacou Chambriard, para quem o ambiente do encontro foi “muito cortês, como não poderia deixar de ser”.

A Petrobras prevê investir 78 bilhões de dólares entre 2023 e 2027, alta de 15% em relação ao plano de negócios plurianual anterior, com o segmento de exploração e produção mantendo o protagonismo. O programa manteve gestão de portfólio ativa, com expectativa de desinvestimentos entre 10 bilhões e 20 bilhões de dólares no quinquênio.

O grupo de transição havia solicitado em reunião virtual na semana passada que a atual gestão da Petrobras suspenda os processos de desinvestimentos que ainda forem possíveis, para que o novo comando da petroleira no próximo ano possa avaliar com calma os próximos passos sobre o assunto.

Ao falar à Reuters, Chambriard –que foi diretora-geral da reguladora ANP– pontuou que, como consultora, avalia que “a Petrobras precisa caprichar um pouco mais em seu planejamento de longo prazo”.

“Cinco anos para mim é período muito curto, principalmente quando a gente fala em transição energética em 2050, e acho que a política de transição energética no que diz respeito a parte de biocombustíveis ficou muito pouco definida no planejamento”, afirmou, ressalvando que é sua opinião como consultora.

Segundo ela, o capital alocado para transição energética no plano de negócios é relativamente pequeno.

Em nota, o integrante do grupo de transição Deyvid Bacelar reiterou nesta terça-feira que o plano estratégico “será revisto pelo novo governo, dando ênfase, entre outras coisas, ao aumento da capacidade interna de refino, a fim de que o Brasil caminhe também para autossuficiência em combustíveis e até para ser exportador de derivados de petróleo”.

PREÇOS E ABASTECIMENTO

Havia uma preocupação da equipe de transição sobre uma crescente demanda por combustíveis neste fim de ano e se o país estaria pronto para garantir a oferta.

“O grupo queria ter a certeza de que não haveria problema para o abastecimento, e fomos tranquilizados”, disse à Reuters outro integrante do grupo Maurício Tolmasquim, que explicou que a reunião durou cerca de três horas.

Em nota, o senador Jean Paul Prates –também participante do grupo de transição– disse que é esperado um inverno rigoroso e crise de preços na Europa. “A Petrobras afirmou que está monitorando e tomando providências em relação ao estoque nacional de combustíveis para esse período”, disse.

Já na temática sobre preços de combustíveis, os integrantes explicaram que não foram tratados detalhes, e que não se falou sobre fórmula de reajustes, nem políticas para o futuro.

Prates disse, no entanto, que foram feitos vários questionamentos sobre a política de preços de paridade internacional e sobre o acordo da Petrobras com o Cade, que pode resultar na venda oito refinarias da estatal.

Também foram debatidas as políticas de refino, abastecimento e logística da empresa.

“A Petrobras afirmou que passou a usar ferrovias e a desenvolver uma logística para atender o mercado do interior do país, principalmente o mercado do agronegócio e os distribuidores regionais”, explicou.

Outro ponto de atenção levantado na reunião de hoje foi sobre discussões em curso sobre uma revisão do preço mínimo de referência para o cálculo de royalties do petróleo, que poderá resultar em uma elevação dos valores a serem pagos e impactar petroleiras, segundo Chambriard.

(Por Marta Nogueira)

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