10/08/2022 - 8:49
Como é transmitida a varíola dos macacos? Quais os sintomas específicos da atual onda? Três meses depois do início da pandemia, os cientistas começam a traçar os contornos.
Quase 28.000 casos foram confirmados em todo o mundo e as primeiras mortes foram registradas.
– O perfil –
A varíola dos macacos já era conhecida há algumas décadas em alguns países africanos.
Mas a atual epidemia apresenta várias particularidades, a começar pelo perfil dos pacientes.
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São principalmente homens adultos que mantêm relações homossexuais, ao contrário do que acontece na África, onde a doença afeta principalmente as crianças.
Nas últimas semanas, três estudos publicados nas principais revistas médicas de referência – British Medical Journal (BMJ), Lancet e New England Journal of Medicine (NEJM) – descreveram o quadro clínico da doença, mas os dados são precoces, obtidos a partir de algumas centenas de casos.
Os estudos confirmam que quase todos os casos afetam homens que mantêm relações sexuais com outros homens.
– Como é transmitida? –
A predominância do perfil não é uma surpresa porque já havia sido documentada com a detecção dos primeiros casos.
A doença é, portanto, transmitida por via sexual?
Alguns especialistas em saúde pública temem que uma resposta definitiva estigmatize a comunidade homossexual.
Mas os estudos mais recentes são claros. “Nosso trabalho respalda a ideia de que um contato corporal durante a atividade sexual constitui o mecanismo dominante de transmissão da varíola dos macacos na epidemia atual”, resume o estudo da Lancet, realizado em vários hospitais da Espanha.
A conclusão está baseada, em particular, no fato de que a carga viral era muito mais elevada nas lesões cutâneas dos pacientes, em comparação com a registrada no sistema respiratório.
Alguns pesquisadores haviam mencionado a ideia de que a transmissão por via aérea também desempenharia um papel importante na contaminação, mas estas descobertas provocam perguntas sobre esta teoria.
Isto não significa que a doença é transmitida através do esperma. A hipótese não está descartada, mas as pesquisas atuais não comprovaram a tese.
– Quais os sintomas? –
Os três estudos confirmam também que a epidemia atual se distingue por seus sintomas, que “são diferentes dos que foram observados em populações afetadas por epidemias anteriores” na África, explica o estudo do BMJ, realizado no Reino Unido.
Dois elementos fundamentais da doença: a febre, às vezes acompanhada de dores musculares, e lesões corporais, que se transformam em crostas.
Os detalhes variam e a questão certamente está vinculada à transmissão, porque entre os pacientes recentes algumas manifestações físicas parecem estar relacionadas com uma contaminação durante uma relação sexual.
Em cada estudo as lesões estão concentradas no ânus, no pênis e na boca. A isto são adicionadas complicações muito pouco observadas até agora: uma inflamação do reto ou um edema no pênis.
Quase 40% dos casos têm complicações, segundo um estudo da Lancet, enquanto 20% dos pacientes precisaram de hospitalização, de acordo com a pesquisa do NEJM.
Segundo este último estudo “não foi detectada nenhuma complicação grave”.
– Os dados que falta –
Embora os estudos permitam um conhecimento melhor da doença, muitas perguntas continuam sem resposta.
A primeira é a eficácia das vacinas. O estudo da Lancet mostra que uma parte considerável dos doentes (18%) havia sido vacinada contra a varíola, que supostamente protege contra a varíola dos macacos.
Os pacientes contraem a varíola dos macacos em alguns casos décadas depois da aplicação da vacina, o que explicaria a proteção menor.
Finalmente, resta determinar se a pessoa corre mais riscos quando sofre de outra doença. Quase 40% dos pacientes estudados pela Lancet estavam infectados pelo HIV. Mas é impossível saber se existe uma ligação direta ou se é uma simples correlação.