Em dezembro próximo, em Contagem (MG), o grupo Fiat inaugura um modelo inédito de produção: a plataforma única para fabricar tipos diferentes de tratores agrícolas ou de construção. O sistema, que tem se tornado padrão entre as montadoras de carros, terá seu pontapé inicial dado no ramo de máquinas pela CNH, holding do grupo italiano que tem sob seu guarda-chuva empresas como a New Holland e Case. O local para a experiência brasileira será a fábrica de Contagem, em Minas Gerais. A unidade está em plena reforma e ainda produz apenas equipamentos para construção da marca Fiat Allis. Em breve passará a montar também os modelos da Case, empresa norte-americana adquirida pelos italianos em 1999. As conseqüências da decisão? Uma maior sinergia entre as empresas da CNH e principalmente investimentos conjuntos em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Parte dos funcionários também pode ser demitida. Para se adaptar às mudanças, a holding, que fatura US$ 10 bilhões ao ano pelo mundo e é a primeira em máquinas agrícolas, adotou uma série de modificações na sua estrutura e logística. Edoardo Teodorani-Fabri, 35 anos, bisneto do fundador da Fiat, Giovanni Agnelli, e que já atuou em empresas como
Alfa Romeo, é o vice-presidente de assuntos estratégicos da CNH. Ele descarta a suspensão ou redução no plano de investimentos
de R$ 200 milhões devido à crise do dólar ou da energia. ?Essa instabilidade não atingirá os negócios com máquinas agrícolas e construção. E o Brasil é tão fundamental para a América do Sul
como a Alemanha é para a Europa. Precisamos garantir nossa liderança por aqui?, esclarece Teodorani-Fabri.

A situação da economia brasileira é até favorável para tratores e escavadeiras. O início da construção de termelétricas resultou em uma demanda maior de máquinas para construção. Ao mesmo tempo, o governo pretende garantir um ótimo desempenho na agricultura, o que favorece as máquinas agrícolas. Elas têm financiamento barato, com taxas de juros prefixadas de 8,5% ao ano oferecidas pelo Finame, o programa de crédito governamental para máquinas. O projeto de plataformas únicas pesou também bastante na decisão da CNH de fechar um recente acordo com a holandesa TNT Logistics, a fim de garantir rapidez no suprimento dos componentes. ?Nossa eficiência com o contrato deve aumentar 10% nos próximos três anos?, explica Valentino Rizzioli, vice-presidente da CNH para a América Latina. A expectativa da CNH é vender neste ano 21 mil equipamentos no Brasil, um crescimento de 10% sobre 2000. O faturamento deve chegar a R$ 1,7 bilhão. A CNH prepara também um enxugamento nos custos depois de fechar, em dezembro, a unidade da Case em Sorocaba, no interior paulista. No início de 2001, terá apenas três fábricas: em Piracicaba (SP), Curitiba e Minas Gerais. Se a fórmula das plataformas híbridas der certo, a CNH pode fazer mais ?terraplenagens? no futuro, eliminando outras unidades.