30/09/2025 - 17:26
Anunciado em 2023, serviço com vagões-leito será encerrado em dezembro após França cortar subsídios, apesar da alta demanda. Decisão também afeta linha Paris-Viena.Criada como parte de um plano de renascimento de trens noturnos na Europa, uma rota com vagões-leito entre Berlim e Paris será encerrada em dezembro, somente dois anos após seu lançamento, anunciou nesta segunda-feira (30/09) a operadora ferroviária austríaca ÖBB.
A decisão também inclui o fim de um serviço semelhante entre Paris e Viena, que funciona desde 2021.
Lançado com fanfarra em dezembro de 2023, com apoio da União Europeia e a presença de ministros e embaixadores, o serviço Nightjet entre Berlim e Paris não sobreviveu à crise orçamentária que afeta a França.
Segundo a ÖBB, principal operadora de trens noturnos da Europa e que liderava o serviço, os franceses decidiram não renovar uma série de subsídios financeiros.
Apesar da alta procura e popularidade entre passageiros – os trens registram ocupação superior a 70% – a viabilidade tanto da rota Berlin-Paris e Viena-Paris ainda dependia da injeção de 10 milhões de euros (R$ 62,5 milhões) por ano por parte da operadora ferroviária francesa SNCF, que, por sua vez, recebia o valor do Ministério dos Transportes da França.
“Atualmente, os trens noturnos só podem ser operados com a participação de parceiros internacionais. A ÖBB lamenta que, após a retirada dos parceiros franceses, ambas as conexões de trens noturnos deixem de ser oferecidas a partir de 14 de dezembro de 2025”, anunciou a operadora austríaca.
A decisão efetivamente encerra os serviços noturnos entre Berlim e Paris e Viena e Paris, já que nenhuma outra empresa opera trens noturnos nas mesmas rotas.
Nos últimos anos, as duas rotas haviam se tornado populares entre passageiros interessados em evitar companhias aéreas ou dispostos a fazer viagens mais lentas com a possibilidade de descanso durante o percurso.
A viagem no Nightjet entre Berlim e Paris, por exemplo, tem duração de 14 horas, com partidas três vezes por semana. Os assentos mais baratos custam cerca de 30 euros, mas há opções em vagões do tipo couchette com até seis camas ou vagões-leito com uma a três camas, chuveiro e café da manhã.
Renascimento prematuro dos trens noturnos
Nos anos 2010, muitas linhas férreas noturnas foram desativadas na Europa com a ascensão de companhias aéreas de baixo orçamento. Antes do lançamento do Nightjet entre Paris e Berlim, já havia existido um serviço anterior extinto em 2014.
Na década seguinte, no entanto, a União Europeia e diversos países europeus começaram a favorecer novamente longas rotas ferroviárias, incluindo serviços noturnos. A proteção climática alimentava grande parte desse cálculo, já que os trens levam clara vantagem em relação aos aviões na emissão de gases poluentes. Por isso o relançamento das linhas Paris-Berlim e Paris-Viena atraíram autoridades durante as viagens inaugurais.
O presidente francês Emmanuel Macron prometeu em 2022 restaurar cerca de 10 rotas de trens noturnos até 2030. No momento, a França agora opera oito linhas domésticas noturnas a partir de Paris com destino para Nice, Toulouse e Tarbes, entre outras cidades. No entanto, segundo a SNCF, elas também dependem de subsídios estatais.
E até mesmo o futuro dessas linhas permanece incerto por causa da grave crise fiscal e orçamentária que castiga a França, que tem ficado bem distante dos limites de endividamento estabelecidos pela UE.
Em meio à resistência dos franceses em fornecer novos subsídios para o Nightjet, velhos problemas que afetam trens noturnos voltaram a ficar aparentes.
O serviço sempre foi empreendimento caro: ao contrário dos trens diurnos, nos quais um assento pode ser revendido a vários passageiros ao longo de uma rota com várias paradas, uma cabine-leito gera receita de apenas um passageiro por viagem. Também não é incomum que os usuários enfrentem atrasos e cancelamentos constantes, obras e preços pouco atraentes.
Além disso, requisitos de funcionários adicionais e mudanças de locomotivas nas passagens de fronteira também significam ainda mais as despesas.
Apesar da extinção das rotas Paris-Berlim e Paris-Viena, a ÖBB afirmou que continuará a investir em outras rotas noturnas existentes e a manter o serviço Viena-Bruxelas. De acordo com o seu site, a empresa opera serviços ferroviários noturnos na Alemanha, Itália, Holanda e Suíça, entre outros destinos.
Para os passageiros que desejarem continuar a viajar de trem entre Berlim e Paris, a companhia alemã Deutsche Bahn oferece uma linha direta de alta velocidade com duração de viagem de 8 horas, mas sem as amenidades de um trem noturno e seus vagões-leitos.
Jps (ots, dpa)