02/04/2018 - 13:39
O tremor de terra que ocorreu na Bolívia na manhã desta segunda-feira, por volta de 10h40, foi sentido em prédios mais altos de São Paulo e de Brasília e em várias outras cidades do Sudeste, do Centro-Oeste e na região Sul do Brasil. O sismo, de magnitude intermediária, de 6,8 pontos na escala Richter, ocorreu a 555 km de profundidade, de acordo com o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).
Diversas pessoas que trabalham em prédios altos da Avenida Paulista, um dos pontos mais elevados de São Paulo, puderam sentir a vibração das ondas emitidas pelo tremor que ocorreu a milhares de km de distância. Ele abalou uma área localizada a 209 km de Tarija, noroeste da Bolívia, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
Na Avenida Paulista, dezenas de pessoas saíram dos prédios e se aglomeraram nas ruas. O prédio da Petrobras, no número 901 da avenida, foi evacuado após os funcionários que trabalham do 11º ao 19º andares sentirem os tremores. Segundo o segurança Jackson Carlos da Conceição, as pessoas relataram que o tremor durou cerca de 30 segundos. “Eles viram as portas e objetos balançarem, disseram ter sentido como se estivessem tontos”, contou.
Por precaução, todos os andares do prédio foram esvaziados. Cerca de 400 pessoas trabalham no local.
O prédio da Gazeta no número 900 da famosa avenida foi outro a ser evacuado. Por volta das 11h, o prédio do Ministério Público de São Paulo, que fica na Rua Riachuelo, no centro, também foi esvaziado. Muitas pessoas permaneceram nas calçadas aguardando permissão para retornarem ao prédio.
O editor de fotografia Marcelo Ferrelli, de 40 anos, estava no 12º andar do prédio da Gazeta quando sentiu o tremor. “Eu estava em pé e deu uma vertigem, uma sensação de baixar a pressão. Todo mundo começou a perguntar e a gente reparou os fios da TV balançando. Tremeu, diminuiu e tremeu de novo e outra vez. Foram três vezes em um período de cinco minutos.”
Ele conta que viu prédios da região sendo evacuados. “Trabalho aqui desde 1999 e é a segunda vez que consigo sentir (o efeito de um terremoto). Já teve um tremor por causa de um terremoto no Chile e a gente sentiu aqui, mas este foi mais forte”, contou
Por causa dessa experiência, Ferrelli passou a seguir perfis de sismologia nas redes sociais. “Recebi informações rápido e soube que era um problema na Bolívia.”
Quem estava no Conjunto Nacional, também na Paulista, sentiu o impacto do terremoto. “Estava conversando com um colega na nossa sala que fica no Conjunto Nacional e ficamos intrigados. As lâmpadas começaram a balançar todas juntas, no mesmo ritmo. Não tínhamos ideia do que era e fomos olhar nas outras salas, mas no escritório ninguém mais percebeu”, contou Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.
Nas redes sociais também houve relato de tremores em Santos, no litoral paulista, e no Distrito Federal, em Brasília.
Terremoto profundo
Técnico em sismologia do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Barbosa explica que o terremoto registrado na Bolívia foi considerado profundo e, quando isso ocorre, ondas chegam à superfície e se propagam. “São ondas que caminham no sentido transversal, acabam encontrando as estruturas dos prédios e mexendo. As pessoas acabam sentindo essa oscilação. Em geral, sentem um ligeiro enjoo, a vibração, podem ver um lustre balançando e isso é suficiente para elas saírem correndo, porque não estão habituadas a esse tipo de situação”, explicou.
Segundo Barbosa, é possível que, em uma mesma região, pessoas que estão em um prédio sintam o tremor e outras, em um imóvel próximo, não tenham a mesma sensação. “Tem prédios que estão fixados em rochas mais duras e outros em rochas sedimentares, que amplificam um pouco e as pessoas percebem mais facilmente. Em outros, fixados em basalto, granito, as ondas passam e quase não são percebidas.”
O técnico informa que, de um modo geral, esse tipo de tremor não abala a estrutura dos prédios. “Tivemos dezenas de casos de ocorrências desse tipo, que as pessoas chamam de reflexo de terremoto e, em geral, não causa danos em prédios.”