21/06/2024 - 16:50
Não é novidade que produzimos e consumimos em uma velocidade muito maior do que o planeta é capaz de se regenerar. O crescimento desordenado das cidades e a falta de um olhar sistêmico, focado no longo prazo, está se refletindo em desastres que destroem vidas e nos levam a gastos exorbitantes e impactos ambientais e sociais que poderiam ter sido evitados. Precisamos urgentemente de uma nova mentalidade de negócios capaz de transformar a nossa forma de viver e de tratar o planeta.
A partir da experiência de diversos países e a vivência da realidade brasileira, concluímos que existem três passos fundamentais para a busca por um novo modelo econômico – independente de diferenças geográficas, econômicas e culturais.
• O primeiro passo para a transição circular é a construção de uma visão comum a todos os atores envolvidos, fortalecendo um ambiente de debate e negociações entre indústrias, empresas, o poder público e a sociedade civil. Somente com bases e relações fortalecidas é possível definir metas e construir planos de ação integrados, afinal, é crucial que se estabeleça um modelo colaborativo e rentável.
• Em seguida, devemos entender que a solução está nas pessoas e nos dados. E, claro, as pessoas nos levam aos dados. Esse compartilhamento de informações é a espinha dorsal do sucesso, mas exige uma base de confiança sólida entre os atores para acessarmos dados de forma consistente. O comprometimento com uma troca de conhecimento de qualidade é o que trará os resultados esperados. Caso contrário, o que veremos são metas ambíguas, limitadas e com baixo índice de integridade, como observamos hoje em muitas metas Net Zero, de acordo com o Corporate Climate Responsibility Monitor.
• Por fim, é hora de redefinir papéis e responsabilidades. Diferentes atores estão acostumados a trabalhar em núcleos – às vezes até dentro de suas próprias organizações. Construir iniciativas circulares por meio de novas formas de cooperação é um verdadeiro desafio. Uma nova régua econômica deve ser capaz de mensurar os custos para a indústria, mas também o quanto isso irá refletir em custos e benefícios para a nossa sociedade.
O Fórum Econômico Mundial de 2020 nos mostrou, pela primeira vez na história, que problemas relacionados ao clima dominaram a lista dos cinco principais riscos de longo prazo, com prejuízos na ordem de US$ 165 bilhões somente em 2018. Torna-se claro o senso de urgência para a transição, pois ações isoladas não são mais suficientes. Devemos abordar os desafios da sociedade atual de forma integrada e multidimensional, como parte inerente à gestão de riscos e competitividade.
Para debater o desafio e as oportunidades deste modelo, representantes de mais de 168 países se reuniram, em maio deste ano, no Fórum Global de Economia Circular, na Bélgica. O evento teve como foco a interdependência das cadeias produtivas e as possibilidades de interlocução entre o Sul e o Norte Global, para definir diretrizes com base nas necessidades e realidades de cada região.
A presença do Brasil evidenciou ainda mais que, mesmo com realidades distintas, a transição se inicia de forma semelhante em todos os países: com iniciativas colaborativas que incluam vários setores, a participação do setor público, a mudança de hábitos de consumo e a troca de experiências. Isso significa que, para transformarmos o modelo econômico, seja onde for, precisamos estar juntos na dedicação de tempo e esforço.
A fim de avançarmos com a circularidade no Brasil, muitas ações devem acontecer ao mesmo tempo. Não podemos esperar atitudes de um ou outro ator, mas, sim, um esforço multissetorial e colaborativo. A troca com especialistas internacionais também nos permite acelerar o processo. Com um arcabouço cada vez mais favorável e a sociedade, indústrias e governo engajados com o tema, temos certeza que 2024 pode se tornar o ano da economia circular no País.
Beatriz Luz é fundadora e diretora da Exchange 4 Change Brasil e do Hub de Economia Circular Brasil