Com o ultraliberal Kwasi Kwarteng à frente das Finanças, a superconservadora Suella Braverman no Interior e o discreto James Cleverly como chefe da diplomacia, Liz Truss confiou as pastas-chave do novo governo britânico a representantes das minorias.

Incluindo a nova primeira-ministra, terceira mulher no comando do Executivo, o Reino Unido não tem pela primeira vez em sua história nenhum homem branco nos quatro cargos mais importantes do governo.

No entanto, quase todos saíram de escolas da elite britânica, do exclusivo internato para meninos de Eton às prestigiosas universidades de Oxford e Cambridge.

Filho de imigrantes de Gana que chegaram ao Reino Unido nos anos 1960, Kwarteng, de 47 anos, terá nas mãos a difícil missão de tirar o país da crise causada pelo alto custo de vida e pela disparada dos preços da energia.

“Há muita pressão sobre Kwasi Kwarteng”, já que a longevidade política da nova primeira-ministra estará estreitamente ligada a seu sucesso para superar a crise”, disse à AFP Tony Travers, professor da London School of Economics.

Nascido em Londres, filho de pai economista e mãe advogada, Kwarteng conseguiu uma bolsa para cursar o ensino médio na Eton. Estudou em seguida em Cambridge e em Harvard, nos Estados Unidos.

Trabalhou como analista financeiro antes de ser eleito deputado conservador em 2010. Desde 2021, no governo de Boris Johnson, era ministro de Empresa, Indústria e Energia e, como Truss, sua amiga de longa data, é um liberal defensor da redução de impostos.

Sucede no ministério das Finanças a Nadhim Zahawi, um curdo de origem iraquiana, que por sua vez substituiu Rishi Sunak, neto de imigrantes indianos, e Sajid Javid, de origem paquistanesa.

– Migração e relações pós-Brexit –

Apesar de a maioria dos afiliados do Partido Conservador – que preferiram votar em Truss no lugar de Sunak para liderá-los -, ser de homens brancos com mais de 50 anos, os ‘tories’ continuam apostando na diversidade em seus altos cargos.

Braverman, de 42 anos, cujos pais têm origem indiana e emigraram para a Grã-Bretanha na década de 1960 vindos da África, era desde o ano passado advogada-geral – principal assessora jurídica do governo – após ter trabalhado como advogada antes de se tornar deputada em 2015.

Conhecida por suas posições ultraconservadoras, estudou direito na Universidade de Cambridge, onde presidiu a Associação Conservadora, e fez mestrado na Sorbonne, em Paris.

Agora, terá que usar sua experiência jurídica para defender, como ministra do Interior, o controverso projeto de expulsar para Ruanda, país africano a 6.500 km de Londres, migrantes e solicitantes de asilo que chegaram ilegalmente ao país.

Em junho, a justiça europeia já impediu um primeiro voo e defensores dos direitos humanos levaram a medida aos tribunais britânicos, que a analisam desde a segunda-feira.

– Primeiro chanceler não branco –

Cleverly, de 53 anos, reservista do exército com patente de tenente-coronel, será o primeiro ministro britânico das Relações Exteriores não branco.

Adquiriu experiência durante os dois anos que atuou como secretário de Estado de Relações Exteriores, após uma etapa anterior no departamento encarregado do Brexit.

Antes de entrar na política, este licenciado em Administração na agora chamada University of West London, fez carreira na edição de revistas e de publicações on-line para ajudar empreendedores e pequenas empresas.

Ele assume o cargo em um momento delicado, em que a resposta relativamente unificada da Europa à invasão russa da Ucrânia provavelmente será mais afetada pela disparada dos preços da energia e pelas tensões com a União Europeia após o Brexit – sobretudo no que diz respeito à Irlanda do Norte -, ameaçam se agravar.