30/09/2009 - 7:00
A temporada de balanços do terceiro trimestre das empresas ainda não começou, mas Antoninho Marmo Trevisan prepara um especial. A partir de 1º de outubro, a BDO Trevisan vai perder uma parte do seu nome composto. A estratégia mundial da auditora, com sede em Bruxelas, na Bélgica, é tornar-se uma marca única nos 110 países nos quais possui escritórios. Essa foi a maneira encontrada para competir em igualdade de condições com as quatro grandes, KPMG, PriceWaterhouseCoopers, Ernest&Young e Deloitte.
Para isso, todas as parceiras locais desaparecerão e, no Brasil, a BDO ficará sem Trevisan. Mas nada que o assuste. As decisões parecem ter sido casadas. A dele foi tomada há dois anos, enquanto a da BDO foi comunicada em outubro do ano passado. “O meu desejo era sair do dia a dia quando fizesse 60 anos”, revelou à DINHEIRO . Em 30 de março deste ano, data do seu aniversário, ele entregou o comando da companhia para Eduardo Pocetti. “O que eu sou hoje?”, questiona Trevisan.
“Um notório consultor”, adiantase e responde Pocetti. Essa é uma das funções que ele vai exercer daqui para a frente, inclusive dentro da BDO. Trevisan tornou-se presidente do conselho consultivo da auditora no País. Todo o processo de sucessão e governança corporativa foi conduzido pelo escritório de Taiki Hirashima. E a participação de Trevisan foi dividida entre 15 sócios, sendo que dez começaram como trainees. Agora, Trevisan ganhou liberdade para auxiliar empresas que estudam fusões, preparam estratégias de crescimento no Exterior ou queiram a opinião de quem está há 40 anos no mercado brasileiro de capitais. Nada mais propício para o atual momento. “O Brasil retomou seus investimentos internos e é alvo dos investidores internacionais.
Vivemos um momento riquíssimo em todas as áreas”, diz ele. Mas a consultoria dividirá seu tempo com suas outras duas paixões. A criação de carneiros, que passou de hobby a negócio — hoje ele é um dos principais fornecedores da Marfrig, de Marcos Molina –, e a educação. É nesta, porém, que ele concentrará todos os esforços.
A Trevisan Escola de Negócios foi fundada por Antoninho em 1998. Quem está no comando da faculdade de graduação e pós-graduação é o filho Fernando Augusto, que vai colocar em prática os planos ousados de levar a escola que leva o nome da família ao topo na briga com suas principais concorrentes, FGV, Insper e Ibmec. “A escola vive o mercado corporativo e os alunos já são disputados porque aprendem antes de os principais assuntos virarem livros”, afirma Trevisan. A expansão está em curso.
As unidades do Rio de Janeiro e Ribeirão Bonito, cidade natal de Trevisan, no interior de São Paulo, foram inauguradas recentemente. Nessa busca para oferecer o que o mercado de trabalho exige, Trevisan prepara cursos de gestão e marketing esportivo nas 14 cidades-sedes para qualificar profissionais para a realização da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. São Paulo e Rio de Janeiro são as primeiras a receber o curso.
A poucos dias da retirada de seu nome da placa da auditora que criou em 1983 e se associou à BDO em 2004, nenhuma mudança está em curso na sala de Trevisan no 11º andar do edifício na rua Bela Cintra, região central de São Paulo. “O meu nome não é importante, mas a marca única para o investidor que está em todas as partes do mundo”, analisa Trevisan. Seus papéis continuam empilhados sobre a mesa. “Esse é o pen drive do Trevisan. Ele trabalha só com papel”, brinca Pocetti, que recebe uma companhia com faturamento previsto de R$ 110 milhões para este ano. Tudo continua como está porque Antoninho Trevisan permanecerá no mesmo endereço. Ali a BDO divide o prédio com a Trevisan Escola de Negócios. A decisão sobre quem fica só sai em 2010. “Espero que seja a BDO “, provoca Trevisan. “Espero que seja a escola”, rebate Pocetti. Mas, pelo visto, Trevisan não precisará mudar o endereço do seu novo cartão de visitas tão cedo.