Um tribunal dos Estados Unidos condenou o jihadista do Estado Islâmico (EI) El Shafee el Sheikh nesta quinta-feira por ter participado do sequestro e assassinato de quatro reféns americanos na Síria como membro da célula “Beatles”.

Acusado de fazer parte da célula batizada pelos reféns por seu sotaque britânico, El Shafee, o Sheikh, foi julgado na cidade de Alexandria, perto de Washington, por seu papel na captura e morte dos jornalistas James Foley e Steven Sotloff, além dos voluntários Kayla Müller e Peter Kassig.

Sua sentença será conhecida mais tarde. Ele pode pegar prisão perpétua.

El Shafee el Sheikh, 33, permaneceu em silêncio durante este primeiro grande julgamento contra o grupo jihadista nos Estados Unidos, que durou duas semanas.

Nas palavras de seu advogado, ele reconheceu ter se alistado no EI, mas negou ser um dos “Beatles”.

– “Um pouco de ordem” –

Os “Beatles” conduziram o sequestro entre 2012 e 2015 de pelo menos 27 reféns de quinze países (Reino Unido, Japão, Espanha, França, Dinamarca, Nova Zelândia, Peru…) e executaram doze deles, registrando as mortes em vídeos.

Durante o julgamento, cerca de dez de ex-reféns se apresentaram como testemunhas, relatando os terríveis ataques que sofreram durante o cativeiro: afogamentos simulados, espancamentos sistemáticos, tortura psicológica…

Eles descreveram homens “sádicos” que trabalhavam em “equipe”. Eles estavam sempre “mascarados” e “com luvas”, proibiam qualquer um de olhar para eles e os espancavam.

Na quarta-feira, antes da deliberação do júri, o promotor Raj Parekh disse que a promotoria reuniu “um mosaico de evidências” mostrando que ele fazia parte de uma “conspiração aterrorizante e desumana” que “levou à morte” de americanos, britânicos e japoneses.

“Um crime terrorista abre uma grande ferida em uma sociedade, só a justiça pode pôr fim a um capítulo tão monstruoso”, disse o jornalista francês Nicolas Hénin, refém entre 2013 e 2014 e que durante o julgamento descreveu a crueldade de seus carcereiros.

“Não traz os mortos de volta, não cura todas as feridas, mas acalma. Estabelece quem é o culpado, quem é a vítima e põe um pouco de ordem”, disse em mensagem à AFP.

– “Sem compaixão” –

A promotoria afirma que foi “Ringo”, enquanto alguns reféns acreditam que foi “George”.

Os ex-reféns chamados para depor não o identificaram como integrante do grupo.

El Shafee el Sheikh foi preso em 2018 pelas forças curdas na Síria junto com outro membro do trio, Alexanda Kotey.

Eles foram levados para os Estados Unidos para serem julgados, mas Kotey optou por se declarar culpado e será sentenciado em 29 de abril.

O membro remanescente do grupo, Mohamed Emwazi, foi morto em um ataque de drone em 2015.

Ele foi apelidado de “Jihadi John” e foi identificado depois de aparecer com uma faca de açougueiro em vídeos de propaganda do Estado Islâmico mostrando a decapitação de reféns ocidentais.