O que Curitiba tem a ver com a Califórnia? Um patinete. Mas não qualquer um. Este se chama Trikke e é o brinquedinho do momento nos Estados Unidos ? um verdadeiro hit de verão que só os americanos conseguem produzir. E é aí que Curitiba entra nessa história. O Trikke, na verdade, saiu da cabeça de três amigos paranaenses, os físicos Gildo Beleski e Luciano Araujo e o engenheiro Luiz Trintini. Ao reinventar o antigo patinete, criado na Escandinávia nos anos 60, eles deram início a uma
febre mundial que já se espalha por Ásia e Europa e rende US$ 22 milhões anuais.
O Trikke tem três rodas em vez de duas. Para andar basta balançar o corpo
como se faz nos patins. Aí está o sucesso do ?veículo?. Embora pareça uma tra-
quitana ligada a esportes radicais, trata-se de um triciclo que pode ser facilmente manejado pela garotada de 6 a 70 anos. Em 2004, 275 mil unidades serão
vendidas, dizem os inventores.

Pizza da sorte. Tudo começou quando um deles, Beleski, depois de algumas tentativas frustradas de fabricar o produto em escala no Brasil, teve um estalo: o Trikke precisava virar moda. Então, em 1999, ele pôs um protótipo de aço na mala e tocou para a Califórnia, terra boa para maluquices desse tipo. Por três anos, entregou pizzas e jornais locomovendo-se com o Trikke. Numa das entregas, conheceu o americano John Simpson, executivo de marketing de uma empresa de brinquedos que ficou encantado com a novidade. Simpson propôs sociedade ao brasileiro e assim nasceu a Trikke Tech, com sede em Los Angeles, em 2002. ?Naquele ano os EUA foram tomados pela onda do patinete, que voltava na versão metálica que conhecemos hoje?, diz Trintini. O Trikke, com sua velocidade final de 40 km/h, era vanguarda pura.

Os sócios rasparam suas economias e investiram US$ 1 milhão para patentear o produto e desenvolver um modelo mais leve, em alumínio. A produção foi terceirizada para duas fábricas na China. Como estratégia de marketing, o astuto Beleski enviou um Trikke para o casal-Hollywood Brad Pitt e Jennifer Aniston, que passou a rodar em Beverly Hills com o patinete brasileiro. Era o impulso que faltava, e novos fãs pipocaram na Alemanha, na Bélgica, em Portugal e no Japão.

O próximo passo é ganhar o mercado brasileiro. Mas há duas pedras no caminho. O preço, entre US$ 150 e US$ 200, parece alto para os bolsos nacionais. As ruas esburacadas também atrapalham. Mas Trintini vem negociando com varejistas do País e prepara o desembarque do Trikke para o próximo verão. Também está desenvolvendo pneus maiores e com câmaras de ar para o Trikke enfrentar a buraqueira local. Antes, porém, lançará nos EUA o Snow Trikke, que terá esquis no lugar das rodas. Os americanos mal agüentam esperar.