A demanda praticamente inesgotável por imóveis e as perspectivas de uma alta contínua dos preços turbinaram as cotações das construtoras e incorporadoras na bolsa, ao longo dos últimos três anos. No entanto, desde o início de 2012, essa estrutura aparentemente sólida vem mostrando rachaduras cada vez mais severas. Das 12 ações mais negociadas do setor imobiliário, oito amargaram quedas de até 61%, caso da Gafisa (leia quadro), que registrou um prejuízo de R$ 945 milhões no ano passado. “As quedas foram tão pesadas que o valor de mercado de algumas empresas é inferior ao de seus ativos”, diz Cláudio Bernardes, presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). É hora de comprar?

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Para os especialistas, esses papéis só valem a pena para quem tem muita paciência e está disposto a esperar pelo menos um ano antes de ver algum lucro. “Os negócios da construção estão se desacelerando”, diz Eduardo Machado, analista da corretora mineira Amaril Franklin. Segundo ele, os preços dos imóveis subiram muito, o que arrefeceu a demanda. Outro problema foi a alta dos custos dos insumos e, principalmente, da mão de obra, que pressionaram os balanços das empresas. “Com a queda do desemprego, muitos trabalhadores da construção migraram para setores mais bem remunerados”, diz ele. Assim, quando uma empresa como a Gafisa divulga um prejuízo bilionário, as ações desabam. Para Machado, as ações devem oscilar muito no trimestre. 

 

Wesley Bernabé, analista do BB Investimentos, tem uma avaliação parecida. Para ele, como os preços dos imóveis estão altos, não há como repassar custos. “As margens são mais apertadas e o lucro encolheu”, diz Bernabé. Para sofrerem menos impactos nos balanços, as empresas devem reduzir o número de lançamentos neste ano. “Somente resultados melhores no meio do ano devem animar os investidores”, diz. Por isso, as ações das construtoras só são recomendadas em prazos muito longos. De acordo com Márcio Cardoso, diretor da corretora paulista Título, para saber se é hora de comprar papéis do setor imobiliário, o investidor precisa ter claro em quanto tempo espera ter retorno do investimento. Se a resposta for o curto prazo, as ações são mau negócio. “Esses papéis só valem para quem tem paciência”, diz Cardoso.

 

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